Friday, June 30, 2006

Tabloide Lusitano

Hoje passei, como é habitual, os olhos pela banca de jornais perto do meu local de trabalho. Depois de uma consulta rápida pelas notícias sérias um título de um dos tablóides lusitanos chamou-me à atenção. Fazia reportagem de primeira página com honras de destaque fotográfico a história sobre as “principais praias de engate em Portugal”, onde o leitor era recomendado a conhecer a listagem das ditas bem como os pontos fortes e fracos de cada uma. Confesso que não comprei o dito jornal mas não pude deixar de imaginar a reportagem que lá dentro floria.

Em primeiro lugar chamar a este tipo de escrita reportagem de investigação é digno de um texto de humor do Herman José. É fantástico o que profissionais treinados e pagos pelos leitores e patrocinadores se lembram de fazer para ocupar os seus dias. Aliás não imagino nada de mais jornalístico que correr a costa portuguesa em busca de casalinhos suspeitos em poses poucos familiares. Mas há mais, intrigam-me os critérios de selecção, ou seja, o que faz uma praia ser melhor ou pior para o engate? Será o número de homens e mulheres presente, o seu comportamento, a localização, a existência de dunas? Enfim deve ser interessantíssimo consultar a tabela de pontuações que o jornalista elaborou para poder chegar a uma classificação final. “Ora esta praia tem mais duas dunas que a anterior e 1,2% mais mulheres logo é melhor para o engate”, ou melhor ainda “…esta praia é visitada por homens e mulheres que passeiam cães, logo estão em estilo de engate”, ou mesmo a vencedora de todas “…vi uma mulher a passear um gato, logo é uma praia de mulheres sozinhas, logo engate.”.

A lógica do raciocínio é hilariante e não me deixa indiferente e só pode ter sido um homem a escrever isto claro. Como é que sei? Bom, primeiro a foto na capa apresenta um homem deitado com uma mulher deitada por cima, ora todos sabem que um homem quanto menos tiver de se esforçar melhor. Segundo só um homem latino usa a terrível expressão “engate”, qualquer mulher usaria qualquer coisa como romance, ou encontros, nunca uma expressão tão pouco elegante. Finalmente, o motivo pelo qual a reportagem saiu hoje e me faz pensar que foi escrita por um homem, prende-se com o facto que durante os últimos dois dias não houve futebol e portanto algo tinha de ser escrito e obviamente tinha de andar em torno de mulheres e situações duvidosas.

Mas afinal o que é uma praia de engate? Ressalvo mais uma vez que não li o dito artigo mas apenas posso imaginar o cenário. De um lado os homens, de bigode, na casa dos 40, esturrados de bronzeado e cheios de óleo tipo atleta de culturismo. A boa da tanga, tapada pela bolsinha à cintura, contrasta com a barriga já cheiinha de algumas imperiais a mais e por baixo da toalha o jornal desportivo, escondido para não dar mau aspecto. Ah já quase me esquecia, falta a boa da pulseira de ouro e o fio por cima da t-shirt. Do outro as mulheres, de aspecto duvidoso apresentam traços de leste, de ancas largas e mãos de empregada doméstica. Algumas (mais caras) têm ar abrasileirado e usam (para mal dos meus olhos) um fio dental por entre dois pedaços desagradáveis de celulite queimada pelo sol. Na sua larga maioria (90%) são loiras, e desses 90% outros 90% ainda tem o cabelo a cheirar à tinta. O perfume é do mais fraco possível, daquele que nos fica na roupa durante três dias e faz as legitimas pensarem porque é que não casaram com aquele vizinho dos tempos de solteira.

Com este cenário na cabeça rebolo no chão a rir e agradeço a Deus viver em Portugal. Que outro país do mundo me daria motivos para tão boa disposição logo pela manhã. É verdade que temos os nórdicos com a boa da meia branca por dentro dos chinelos e o que dizer dos estúpidos dos espanhóis que são mais ocos que uma porta de madeira, ou mesmo dos hábitos de higiene dos franceses? Mas mesmo assim nada chega ao requinte do puro lusitano que se apura com pormenores distintos em todas as ocasiões.

Thursday, June 29, 2006

Frank...

A folha está branca, pura, imaculada e despida de qualquer emoção. Carrego de forma suave nas teclas de forma a marcar aquela página virtual e sempre tão presente com alguns dos meus pensamentos. Apago e escrevo várias vezes, tenho medo de gritar no papel aquilo que não tenho coragem de contar à vida. Paro e recomeço dezenas de vezes, como se a alma estivesse bloqueada por um engarrafamento qualquer. Decido fumar um cigarro, sento-me na cadeira de forma descontraída e relaxo enquanto puxo uma passa por entre um filtro cheio de tabaco. O fumo quente enche-me a boca e penetra-me no corpo dando-me uma sensação de calma e ao mesmo tempo fazendo-me fechar os olhos. Com a mão livre carrego no play do comando da aparelhagem. Lá dentro um cd de Sinatra começa a dar ambiente à sala enquanto eu continuo o meu namoro com um Malboro. As luzes estão escondidas e apenas uma pequena lâmpada por cima do computador dá algum brilho ao local.

Levanto-me e dou uns passos de dança sozinho, imaginando uma sala de baile dos anos 60, algures em Nova York. Deambulo até à cozinha e encho um copo com uma bebida quente, meio achocolatada e com duas colheres de açúcar. Volto em passos de dança para a sala e com o copo ao lado na mesa volto a olhar para o ecrã. Nada, nem uma linha surge na limpa folha do Word. Tudo o que me apetece escrever me entristece e não quero voltar a sentir-me assim, muito menos nesta noite. Subo um pouco o volume e puxo o álbum até ao My Way. Esta música diz-me efectivamente muito, é quase como se me revisse em algumas das suas estrofes. Olho para o quadro na parede e no meio de duas passas no segundo cigarro recordo erros do passado enquanto o Frank me dá o tom. Concluo que fiz muito, passei por muito e obviamente errei muito mas nada posso fazer, só posso aprender com isso e nada mais e tudo o que fiz, é verdade Frank, foi mesmo sempre à minha maneira, no meu estilo e porque o queria muito. Sendo assim não me posso arrepender, não me quero arrepender. Teria feito diferente? Talvez. Teria tido tanta emoção? Talvez não. Teria sido mais feliz? Se calhar. Mas teria sido eu? Não.

Pego no pc e deito-me no sofá, a música volta a relaxar-me e o quente da bebida começa a provocar peso nos meus olhos. Beijo uma imagem pintada no meu céu e fecho os olhos tirando ao mesmo tempo a gravata. Que estranho, penso, o fato já quase que faz parte de mim, vivo com ele com uma segunda pele e já nem o sinto. De camisa aberta, desnudando o meu peito e de copo já pousado no chão, deixo de resistir e caio no sono. O Frank acompanha-me até ao fim e sei que algures na noite ele também se vai silenciar. Deito um último olhar ao ecrã e sorrio, uma hora passou e nem uma linha mas curiosamente sinto-me como se tivesse escrito uma novela e desabafado com ele toda a problemática da minha existencialidade. De sorriso discreto mas honesto adormeço.

Wednesday, June 28, 2006

Se eu fosse mulher por uma noite

Beijou-me. O beijo dele é intenso, molhado e terno, de um quente ardente, que queima ao de leve apenas com um pequeno toque. De olhos fechados mordiscou-me o lábio e segurou-me a mão com a certeza de quem comanda. Firme e decidido passou-me as mãos pelo cabelo e sussurou-me ao ouvido a alcunha que me tinha posto no nosso primeiro encontro. Estava nervosa, a alma tremia-me e milhares de pensamentos invadiam a minha cabeça. Estava prestes a dar-me pela primeira vez aquele pedaço de pecado sem fim e as pernas tremiam-me.
Desejava-o mas não queria que isso se visse nos meus olhos. Gentil e cavalheiro avançou para mim, desnudando o meu peito enquanto me tirava do sério com pequenos beijos secos na base do meu pescoço. Nunca gostei que me molhassem o pescoço e a maioria dos homens achava que isso eram as formalidades necessárias para excitar uma mulher. Este sabia-o na exacta medida e colocou-me em fogo quando quase sem se notar brindou as minhas coxas com um suave toque dos seus dedos. Tinha mãos suaves, quase de menino, mas determinadas e carinhosas com a segurança de um homem maduro. Peito com peito senti arrepios ao sentir os seus poucos pelos roçarem os meus mamilos já endurecidos de prazer. Molhou-me o umbigo com um pouco de champagne e com uma uva gelada passeou pelo meu ventre encolhido de emoção. Desejava-o cada vez mais mas ele não avançava para a saia como se quisesse que eu o pedisse, e ai como eu o queria. Num gesto calmo deixou cair as calças da cintura e destapou umas boxers justas, pretas e que deixavam advinhar à minha imaginação o desenho do seu eu. Beijei-o loucamente, com uma força de paixão e como se as nossas linguas fossem unas no desejo carnal que nos unia. Sem me preocupar levei a sua mão até ao fecho da minha saia e pedi-lhe com os olhos que me a tirasse. Em silêncio ele o fez e numa cama cheia de tentações fez-me dele pela primeira vez. Eu estava insaciável, louca de prazer e desejo e ansiosa por me sentir mulher. Ele gingava o seu corpo suado para meu deleite e com pequenos gemidos, não exagerados marcava o compasso. Inundamos o quarto e transbordamos para a casa sem pudor ou medos. Incendiamos tudo por onde passamos e ao ver a nossa imagem no espelho da sua sala apertei as pernas para o sentir melhor. Cansados caimos já de manha numa cama exausta e cumplice. Pegou-me na mão e beijou-me a fonte terna e apaixonadamente. Respondi-lhe com um beijo sincero e bem agarrada a ele deixei-me dormir.

Tuesday, June 27, 2006

Hoje falei com Deus

Hoje falei com Deus e perguntei-lhe por uma resposta que aguardo com ansiedade. Respondeu-me quase de imediato se trocava o sucesso e a carreira por um amor. Nem pensei, nem idealizei a casa, fascinei-me com o carro ou imaginei viagens. Quase de rajada chorei a dizer que sim, e fi-lo com toda a força do mundo. Nada vale um coração. Hoje estou de novo no topo do mundo e nada faz sentido se ao deitar-me à noite não tiver calor na alma, hoje sei isso e hoje vou lutar por isso, nem que isso me custe carreira, sucesso e dinheiro. Não acho que tenha sido estupido ao longo dos ultimos anos, faz parte da aprendizagem da vida, nem sei se fazia as coisas diferentes mas uma coisa eu sei não quero voltar a errar e quero ser feliz.

Estou ansioso

Ansioso, profundamente ansioso. As unhas roídas já há muito se esgotaram e dão agora lugar a tiques irreflectidos que repito para aliviar a tensão. A pressão que sinto é enorme e por mais que não queira sinto-me nervoso. A minha experiência e maturidade profissional devia conseguir manter-me os pés no chão e faço um esforço contínuo para isso. Olho mil vezes o relógio e confiro cem vezes se o telefone está bem ligado e com rede. Uma chamada, uma só chamada é o que falta e o que me separa de um objectivo que nos últimos dias passou de sonho a quase realidade, para novamente sonho e agora novamente quase realidade.
A ansiedade consomo-me, deixa-me esgotado e degastado, cansado de horas sem descansar e de muitos pensamentos elaborados. As conversas andam todas em torno do mesmo tópico e por mais que queira não consigo dar atenção aos temas dos outros. É quase como se todos tivessem de participar nesta loucura que por ser minha já é normal. Seria de estranhar um processo simples. Bem me recordo o que aconteceu em 2001 quando já com o contracto assinado estive quase a não ficar e só uma reunião de emergência em casa de um director geral salvaram a situação. Bem me recordo de 2002 onde as decisões foram tomadas à mesa de um restaurante da baixa e nem a certeza da nomeação me tirou os nervos da votação sobre o meu nome. E o que dizer da guerra de nervos de 2004 onde a incerteza ficou até ao fim. A minha carreira tem sido feita assim, de nervos, de ansiedades e de cenários de última hora. Se calhar não queria que fosse diferente, se calhar não me saiam as coisas tão bem se tudo fosse certinho e direito. Estou confiante mas ansioso e a única coisa que peço é que o telefone toque e a loucura que têm sido este último mês tenha um desfecho num apoteótico e extasiante final.

Monday, June 26, 2006

No topo da cidade

Sentei-me no horizonte, sobre uma cidade meia adormecida, com uma lua cheia a iluminar as ruas cinzentas e frias da noite. Com os telhados por companhia desci os olhos sobre a calçada num desvio triste e sem compromisso. Vaguiei por ruas e calçadas, becos e praças, avenidas e ruelas, subi e desci as colinas e até abracei as muralhas do castelo que imponente olhava severo para mim com ar de reprovação. Baixei ao rio e quase toquei nas águas e fugi da ponte por entre luzes e focos que me encadeavam e deixavam perdido no meio do nada, suspenso no meu ser com a chuva como testemunha.
Lá em baixo, perdida numa avenida, numa qualquer avenida cheia de olhos e vazia de emoções, encontrei-a. Com a forma de uma ilha exótica, mistica, desenhada em traço livre, navegava à deriva por entre corpos libertos e cegos. Estava meio submersa como um banco de areia e era frágil como um banco de coral. Cruzamos olhares, eram meigos, de tudo no seu olhar destaco isso. Não me lembro da cor, nem do tom, mas dos sentimentos que mostravam. O nariz grego morria sobre dois lábios perfeitos, pequenos e rosados, mas não de um rosa qualquer, era um rosa especial, pintado numa palete de cores únicas, tocadas pelos deuses na sua concepção. O cabelo era um mar de ondas cheios de navios e portos esquecidos que descia sobre um pescoço pálido e singular.
Trocamos duas palavras e descobrimos canções e poemas. Estavamos sozinhos entre milhares e levei-a comigo para o topo da cidade. De cima das estátuas trocamos abraços e caricias, promessas e juras, feitiços e rezas. Trincamos fruta fresca, deixando cair pequenas gotas sobre os pés, refrescando a alma e tocando o Olimpo. A chuva, essa tinha parado e a água nascia agora nas nossas fontes criando um rio pelo peito e morrendo feliz sobre a cintura. A cidade ficava agora despida e a noite dava lugar à madrugada com o Sol a ameaçar nascer sobre os nossos olhos. Bem abraçados e num diálogo de silêncios esperamos pelos primeiros raios. Eram quentes e profundos, de uma luz branca transparente e de um gentileza feminina.
Deu-me a sua mão e voamos juntos pela cidade em circulos loucos e desmedidos que nos faziam passar junto das primeiras cabeças da manhã. Parámos num barco ancorado, preso por amarras ao cais, sujo e marcado por viagens que nunca se fizeram. Um silvo marcou a partida e um último beijo selou a noite. Olhei-a uma última vez e vi-lhe a alma nos olhos. Desci decidido e confiante por umas escadas já gastas e subi a uma colina para lhe desejar boas viagens. Do rio até ao castelo não parei de sorrir. A cidade continuava séria, de sorriso fechado mas cumplice e acolhedora. Vê-la assim ao longe, de cabelo solto ao vento e de mãos esticadas para o infinito enquanto agarrava um ultimo abraço meu foi uma imagem que gravei no marmore da minha alma e quando as nuvens a cobriram e a neblina envolveu o seu barco desci das muralhas e encontrei no canto do meu quarto a cama onde pousar o meu peito. De forma gentil e de olhos bem fechados, guardando no fundo a sua imagem, deixei-me cair e em segundos rezei por ela e por mim.

Friday, June 23, 2006

E se fosse possivel trincar uma nuvem

Como um menino, acabado de fazer uma traquinice, sorri de soslaio para o Sol e trinquei um pedaço doce e fofo de uma nuvem. O céu azul, cúmplice e amigo, fechou os olhos a tal feito e prometeu-me aventuras e sonhos sem fim. Era doce a minha nuvem, de uma frescura refrescante e de um toque suave ao paladar que fazia cócegas no meu céu da boca, brincando com os meus dentes e com a minha língua. Com o Sol a bater-me na cara, fui em bicos de pés até à janela de Lisboa e de braços bem esticados agarrei-a, sem fazer muita força para não a machucar e puxei-a para mim, depois com um brilho nos olhos trinquei-a como quem trinca algodão doce em plena feira popular. Milhares de recordações inundaram a minha mente e fizeram daquele momento algo único e deleitoso como a minha nuvem. Satisfeito voltei-a a pô-la no céu e com as estrelas como testemunhas voltei a sentar-me na cidade, brincando com as sombras que nas ruas refrescavam as pessoas.

Wednesday, June 21, 2006

Pausa no teatro

Cinquenta textos se passaram entre a criacção deste blog e este momento e quase nunca falei de mim. Escrevi muito, debitei muitas emoções, lancei gritos ao mundo e lágrimas contra o teclado e, imagine-se, até cheguei a sorrir. Não tinha expectativas quando comecei e não as tenho hoje mas é curioso como me sinto bem ao soltar as palavras que lutam dentro de mim e poder fazê-lo num espaço meu é fantastico. Hoje não me apetece fazer um balanço mas sim um pequeno intervalo numa chuva de tantas historias, encontros e desencontros que sem razão ou lógica partilho com quem tem paciencia para me ler. Hoje vou-me curtir um pouco e abrir um pouco a cortinha sobre um palco que não é muito pisado. Estas ultimas semanas tem sido de emoções fortes e decido que chegou a hora de soltar o que vai cá dentro. Tres semanas de negociações, telefonemas, reuniões, nervos, momentos de ansiedade, angustia e quase desespero. E tudo para que? Para que perdi eu anos de vida? Para dar um impulso na minha carreira. Decisões são sempre dificeis de tomar e mesmo depois de tres semanas e de ter decidido em plena consciecia ainda tive duvidas. Bom seja como for já está, mudei, assinei novo contrato, tenho novos desafios e agora novas responsabilidades. Guardo carinho pelo que deixei, enquanto me encho de orgulho pq quem lutou tanto por mim e me recebe de braços abertos. Espero ter sucesso e voltar a mostrar o meu valor. Depois de no inicio da carreira ter tido uma subida meteoritica, o final de 2003 e a primeira metade de 2004 foram desesperantes. Lutei com todas as forças para me manter de pé e dois anos depois estou de novo a brilhar. Só espero ter agora a maturidade suficiente para gerir isto e conseguir estabilizar uma carreira que vai quase mais longa que a minha idade eheheheh. Bom agora que já partilhei um pouco de mim vou voltar para dentro e vestir as milhares de personagens que vivem no meu camarim. Até um dia e até lá vou aparecendo nos meus textos como um actor que saí do palco para se sentar ao lado dos espectadores nas cadeiras do teatro. Até já.

Levanto-me com a tua imagem

Levanto-me com a tua imagem, com o teu cheiro e com o teu toque. Levanto-me e ali estás tu, quieta, de olhos fechados e ar sereno e sincero. No mesmo sitio em cada dia, na mesma almofada com as mãos sobre o cabelo que te caí suave sobre a face, branca como a pureza e linda como eu sempre imaginei nos meus sonhos. Diariamente a mesma visão, o mesmo raio de luz. Nos meus últimos acordares a cor já não é a mesma de antes. O teu sorriso quase desapareceu e deu lugar a uma cama fria e despida. Mas quando não estás nítida, eu invento-te, invento-te nos meus pensamentos e no meu coração. Já não temos um pacto com o tempo, não partilhamos o mundo e não esqueço a dor por isso mas se desapareces eu encontro-te, no mesmo sitio, na esquina de sempre, escondida nas minhas emoções. Cada dia que passa te recordo e te volto sempre a ver bem no meio dos meus olhos cansados de te procurar. Sei que cada coisa deve estar no seu sítio mas o passado e o presente misturam-se lançando laivos de emoções soltas para dentro dos meus pensamentos. O fogo nas minhas mãos pede para voltar a ter-te nos meus braços a dançar comigo, numa dança eterna, numa música única, de um autor celestial e abençoada por tons de magia. Não destrui as tuas fotos, nem o tempo e os anos mas amaldiçoei os minutos em que não te vi e se me falas ao longe procuro ter mais perto e assim saciar-me da falta que sinto de ti. Levanto-me com a tua imagem e deito-me com o teu cheiro e assim sigo caminhando por estradas despidas, sem destino mas com um sonho, uma dança, aquela dança que nunca dançamos mas que eu imaginei mil vezes nos meus sonhos. Levanto-me com a tua imagem e assim cada dia invento um sorriso e não se nota a tua ausência, não desespero, uso a minha imaginação e sigo caminhando.

Tuesday, June 20, 2006

Hoje sentei-me na Lua


Hoje sentei-me na Lua. Sentei-me entre vales e crateras, entre montanhas de rochas e mares de poeira e olhei para baixo. Olhei com os olhos bem abertos para a Terra, azul e tão distante. Fixeibem o olhar e consegui ver a tua casa. É tão pequenina vista lá de cima. Entrei sem ser convidado e sentei-me no parapeito da janela. Lá dentro, numa sala bem arrumada, ouvias a tua música, de sorriso nos lábios e chocolate na mão. Não consegui ver a marca mas pela forma como os trincavas conseguia ver o quão saborosos eram. O ritmo da música dava cor à sala e nem as paredes mais despidas conseguiam fugir à onda de luz vinda da janela.
Sem te aperceberes sentei-me ao teu lado. Tão perto que quase conseguia ouvir os teus pensamentos. Via-se que estavas longe, navegando solta numa bolina em alto mar. De velas levantadas, os teus olhos fugiam de tudo, não se fixando e fechando-se a cada dentada no chocolate. Por fim ganhei coragem e toquei-te. A minha mão tocou levemente a tua beijando com suavidade a tua pele. Era quente e fina, como uma sede exclusiva de uma qualquer corte real chinesa. O nosso momento foi tão leve que tu nem o sentiste, sorriste de forma discreta, mas pode ter sido pelo som do refrão que ecoava agora na sala. Embora não o tenhas sentido, aquele toque, simples, singelo, pequeno, fez-me ver a tua alma, olhar dentro do teu peito e sentir o calor das tuas emoções.
Levantei-me do sofá e voei até à janela, pelo caminho beijei-te na minha mente e brinquei traquina com o teu cabelo. Por entre os panos olhei-te uma última vez e deixei-me ir, calmo, tranquilo, de volta ao meu lugar. Hoje sentei-me na Lua, e daquele lugar tomei conta de ti, olhei-te, venerei-te e no final sinto que te inspirei, mas tu nem me viste, o teu olhar nem em mim passou, mas não faz mal. Vou tocar a tua vida em todos os momentos que respirar e tentar que todos os dias te sejam dados cheios de sol.
Hoje sentei-me na Lua e sorris-te de volta.

Sunday, June 18, 2006

Tenho...

Tenho marcado no meu peito,

todos os dias em que me deito,

e a vida finge que te perdi.

Tenho uma fé que é madura,

que vai comigo e me cura,

desde que te conheci.

Tenho um raio de lua,

entre a minha sombra e a tua,

que não me deixa mentir.

Sou uma moeda na fonte,

um teu desejo que não mente,

com ganas de voltar a sorrir.

Tenho uma manhã apostada,

e uma aguarela de cores guardada,

esperando para poder pintar-te de azul.

Tenho o teu amor e fantasias,

tenho o teu mar e maresias,

és o meu Norte e o meu Sul.

Hoje vou ver-te de novo,

vou amarrotar a tua roupa,

vou beijar-te na testa,

quando te vir a chegar.

Hoje vou ver-te de novo,

vou deixar-te louca,

vamos fazer uma festa,

para que te possa amar.

Tenho uma frase guardada,

na minha alma amarrada,

que me desnuda diante ti.

Tenho uma praia e um coqueiro,

que me acompanha no braseiro,

quando penso que te perdi.

Tenho uma manhã apostada,

e uma aguarela de cores guardada,

esperando para poder pintar-te de azul.

Tenho o teu amor e fantasias,

tenho o teu mar e maresias,

és o meu Norte e o meu Sul.

Hoje vou ver-te de novo,

vou amarrotar a tua roupa,

vou beijar-te na testa,

quando te vir a chegar.

Hoje vou ver-te de novo,

vou deixar-te louca,

vamos fazer uma festa,

para que te possa amar.

Tuesday, June 13, 2006

Thoughts

Posso falar dos por de sol, das nuvens que nos beijavam a cabeça ou dos passaros que sobre nós voavam. Posso falar dos cheiros da flores ou da brisa que nos cumprimentava pela manha. Posso falar do café que quente na chávena dava aroma ao pequeno-almoço. Posso falar das velas que cobriam a casa ou dos sonhos que cobriam as nossas cabeças. Posso falar da lua, essa amante intrometida que nos visitava com o céu limpo em noites quentes de prazer. Posso falar de peixes que connosco nadavam em águas mornas e limpas, de cavalos que corriam pelos prados livres e soltos. Posso falar dos beijos e caricias ou simplesmente dos olhares que trocavamos. Posso falar de tudo isso mas nada se compara às estrelas que nascem no seu olhar. Posso falar de tudo e nada se compara aos arrepios que o seu corpo provoca no meu nos meus sonhos e fantasias. Posso falar de tudo que faltaria muito para descreve-la e aquilo que os nossos corações partilharam.
Hoje eu sei, a vida mudou a pagina e apanhou-me no meio de um temporal de letras que me turvam a vista e não me deixam olhar para o horizonte. Estou cansado de viver no passado, de perder o presente e acima de tudo de magoar esse presente com dores que noutros corações já cicratizaram. Por tudo isso e muito mais que não cabe em meras palavras vou seguir em frente. Beijo o sol e sinto o calor nos meus lábios, choro e sinto a dor na minha cara e aperto os dedos com muita força para não quebrar. Encosto-me na cadeira e deixo os olhos vaguearem por um tecto despido mas cheio de história. A vida não pode ser só isto, não pode acabar aos trinta nem pode morrer no olhar de um passado. Posso falar do seu beijo e da forma como me abraçava mas prefiro falar da forma como vouviver, prefiro falar da forma como vou seguir a minha vida. Sei que não vai ser facil, que vai doer mas sei que é este o caminho certo. Volto a beijar o sol e fecho os olhos.

Lágrimas nas férias

Hoje interrompi as minhas férias para chorar. A vida prega-me destas partidas e eu busco forças onde julgo já nem as ter. Não me apetece escrever sobre aquilo que me faz doer mas estou cansado, sinto-me exausto. Peço a Deus forças para me aguentar. Há imagens que valem mais que mil palavras e a minha face no espelho hoje de manha mostrou-me bem como estava e como me estou a sentir. Queria que tudo desaparecesse, que esta dor que me atromenta se fosse embora de vez e me deixasse em paz para poder viver a vida que escolhi. A vida abençoa-me com sucesso profissional, bons amigos, uma familia unica e bens e no entanto é cruel ao ponto de me cortar todos os dias com facas mais afiadas cum um cutelo de um talho. Expludo de raiva, odeio a vida e cuspo na cara de Deus. Quero paz, exijo paz, por todo o sangue que já dei, pela alma que já perdi e pelas lágrimas que já chorei eu quero paz. Se hoje fosse Natal, era isso que eu pedia, paz, paz para ser feliz, paz para poder esboçar um sorriso, paz para fazer outros felizes, paz para poder de uma vez por todas viver. E enquanto essa paz não vier juro pelo sangue que me corre nas veias que vou lutar até morrer contra tudo e contra todos pelo meu cantinho de felicidade, pq não há Deus demasiado grande que me impeça de ser feliz.

Friday, June 02, 2006

Saudade

Saudade, essa palavra que queima e corrompe o nosso coração e o transforma em pequenos pedaços partidos como vidro esmigalhado no fundo de uma sala vazia. É horrivel quando os nossos olhos não vem aquilo que o coração busca. Preciso de espaço, preciso de ar, um ar fresco que me leve daqui para fora e me mostre um arco-iris no fundo de um ceu cinzento. Desejo um céu sem nuvens, uma vida sem solidão e momentos sem pausas. Rendo-me à vida por instantes e vergo-me às evidencias. Tenho de reagir e dar o grito que a angustia e dor não deixa, cortando-me a voz e a alma. Vou sair e fugir do meu mundo.