Tabloide Lusitano
Em primeiro lugar chamar a este tipo de escrita reportagem de investigação é digno de um texto de humor do Herman José. É fantástico o que profissionais treinados e pagos pelos leitores e patrocinadores se lembram de fazer para ocupar os seus dias. Aliás não imagino nada de mais jornalístico que correr a costa portuguesa em busca de casalinhos suspeitos em poses poucos familiares. Mas há mais, intrigam-me os critérios de selecção, ou seja, o que faz uma praia ser melhor ou pior para o engate? Será o número de homens e mulheres presente, o seu comportamento, a localização, a existência de dunas? Enfim deve ser interessantíssimo consultar a tabela de pontuações que o jornalista elaborou para poder chegar a uma classificação final. “Ora esta praia tem mais duas dunas que a anterior e 1,2% mais mulheres logo é melhor para o engate”, ou melhor ainda “…esta praia é visitada por homens e mulheres que passeiam cães, logo estão em estilo de engate”, ou mesmo a vencedora de todas “…vi uma mulher a passear um gato, logo é uma praia de mulheres sozinhas, logo engate.”.
A lógica do raciocínio é hilariante e não me deixa indiferente e só pode ter sido um homem a escrever isto claro. Como é que sei? Bom, primeiro a foto na capa apresenta um homem deitado com uma mulher deitada por cima, ora todos sabem que um homem quanto menos tiver de se esforçar melhor. Segundo só um homem latino usa a terrível expressão “engate”, qualquer mulher usaria qualquer coisa como romance, ou encontros, nunca uma expressão tão pouco elegante. Finalmente, o motivo pelo qual a reportagem saiu hoje e me faz pensar que foi escrita por um homem, prende-se com o facto que durante os últimos dois dias não houve futebol e portanto algo tinha de ser escrito e obviamente tinha de andar em torno de mulheres e situações duvidosas.
Mas afinal o que é uma praia de engate? Ressalvo mais uma vez que não li o dito artigo mas apenas posso imaginar o cenário. De um lado os homens, de bigode, na casa dos 40, esturrados de bronzeado e cheios de óleo tipo atleta de culturismo. A boa da tanga, tapada pela bolsinha à cintura, contrasta com a barriga já cheiinha de algumas imperiais a mais e por baixo da toalha o jornal desportivo, escondido para não dar mau aspecto. Ah já quase me esquecia, falta a boa da pulseira de ouro e o fio por cima da t-shirt. Do outro as mulheres, de aspecto duvidoso apresentam traços de leste, de ancas largas e mãos de empregada doméstica. Algumas (mais caras) têm ar abrasileirado e usam (para mal dos meus olhos) um fio dental por entre dois pedaços desagradáveis de celulite queimada pelo sol. Na sua larga maioria (90%) são loiras, e desses 90% outros 90% ainda tem o cabelo a cheirar à tinta. O perfume é do mais fraco possível, daquele que nos fica na roupa durante três dias e faz as legitimas pensarem porque é que não casaram com aquele vizinho dos tempos de solteira.
Com este cenário na cabeça rebolo no chão a rir e agradeço a Deus viver em Portugal. Que outro país do mundo me daria motivos para tão boa disposição logo pela manhã. É verdade que temos os nórdicos com a boa da meia branca por dentro dos chinelos e o que dizer dos estúpidos dos espanhóis que são mais ocos que uma porta de madeira, ou mesmo dos hábitos de higiene dos franceses? Mas mesmo assim nada chega ao requinte do puro lusitano que se apura com pormenores distintos em todas as ocasiões.