Thursday, June 29, 2006

Frank...

A folha está branca, pura, imaculada e despida de qualquer emoção. Carrego de forma suave nas teclas de forma a marcar aquela página virtual e sempre tão presente com alguns dos meus pensamentos. Apago e escrevo várias vezes, tenho medo de gritar no papel aquilo que não tenho coragem de contar à vida. Paro e recomeço dezenas de vezes, como se a alma estivesse bloqueada por um engarrafamento qualquer. Decido fumar um cigarro, sento-me na cadeira de forma descontraída e relaxo enquanto puxo uma passa por entre um filtro cheio de tabaco. O fumo quente enche-me a boca e penetra-me no corpo dando-me uma sensação de calma e ao mesmo tempo fazendo-me fechar os olhos. Com a mão livre carrego no play do comando da aparelhagem. Lá dentro um cd de Sinatra começa a dar ambiente à sala enquanto eu continuo o meu namoro com um Malboro. As luzes estão escondidas e apenas uma pequena lâmpada por cima do computador dá algum brilho ao local.

Levanto-me e dou uns passos de dança sozinho, imaginando uma sala de baile dos anos 60, algures em Nova York. Deambulo até à cozinha e encho um copo com uma bebida quente, meio achocolatada e com duas colheres de açúcar. Volto em passos de dança para a sala e com o copo ao lado na mesa volto a olhar para o ecrã. Nada, nem uma linha surge na limpa folha do Word. Tudo o que me apetece escrever me entristece e não quero voltar a sentir-me assim, muito menos nesta noite. Subo um pouco o volume e puxo o álbum até ao My Way. Esta música diz-me efectivamente muito, é quase como se me revisse em algumas das suas estrofes. Olho para o quadro na parede e no meio de duas passas no segundo cigarro recordo erros do passado enquanto o Frank me dá o tom. Concluo que fiz muito, passei por muito e obviamente errei muito mas nada posso fazer, só posso aprender com isso e nada mais e tudo o que fiz, é verdade Frank, foi mesmo sempre à minha maneira, no meu estilo e porque o queria muito. Sendo assim não me posso arrepender, não me quero arrepender. Teria feito diferente? Talvez. Teria tido tanta emoção? Talvez não. Teria sido mais feliz? Se calhar. Mas teria sido eu? Não.

Pego no pc e deito-me no sofá, a música volta a relaxar-me e o quente da bebida começa a provocar peso nos meus olhos. Beijo uma imagem pintada no meu céu e fecho os olhos tirando ao mesmo tempo a gravata. Que estranho, penso, o fato já quase que faz parte de mim, vivo com ele com uma segunda pele e já nem o sinto. De camisa aberta, desnudando o meu peito e de copo já pousado no chão, deixo de resistir e caio no sono. O Frank acompanha-me até ao fim e sei que algures na noite ele também se vai silenciar. Deito um último olhar ao ecrã e sorrio, uma hora passou e nem uma linha mas curiosamente sinto-me como se tivesse escrito uma novela e desabafado com ele toda a problemática da minha existencialidade. De sorriso discreto mas honesto adormeço.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

For what is a man, what has he got?
If not himself, than he has naugth
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels

16:44  
Blogger Pitucha said...

Também decidiste "começar"! Nem sempre é fácil, de facto.
Beijos

13:10  
Anonymous Anonymous said...

Se o Frank podesse ler este texto, até ele se orgulharia de ti.
Beijo enorme

21:35  
Blogger Marta Vinhais said...

Obrigada pela dica! Passa pelo meu blog e logo saberás ao que me refiro.
Beijos e abraços
Marta

12:00  

Post a Comment

<< Home