Saturday, May 27, 2006

O ultimo fim de semana

Numa "arrumação" ao meu pc descobri um texto antigo que escrevi num tempo já ido. É sempre algo único ler sentimentos nossos que marcaram a nossa vida. Hoje, com a certeza de uma distância que não quero apagar quero partilhá-lo.
É sexta-feira, a escuridão da noite corta-me o corpo pela crueldade com que se abateu em mim. Sinto que não há saída, tudo desmorona e se desfaz em pó como a cinza de um cigarro que se apaga sem piedade contra o frio vidro do cinzeiro. O seu olhar meigo contrasta com a dureza das suas palavras que me ferem os ouvidos com ataques violentos, contínuos e impiedosos. Peço-lhe que pare, entrego as armas e desisto. As forças abandonam-me a carne deixando apenas o horrível ardor de uma pele que queima pelo simples facto de existir. Sinto-me mal, o peito aperta como se os pulmões pressionassem as costelas com uma força desumana partindo osso a osso fazendo com que respirar seja mais um tormento para quem já não se sente vivo.

Decido fazer uma pausa nesta tortura e abandono por momentos o restaurante onde me encontro. Cá fora no frio gélido da noite fumo um cigarro. O fumo entra-me nos olhos misturando-se com um rio de dor que desce agora pelo vale que é a minha face. A batalha está perdida e o que eu achava ser a cor dos meus dias já fugiu e deixou-me como protagonista de uma BD a preto e branco onde os limites da quadrícula apertam numa sufocante tomada de consciência de solidão. Não sei o que fazer, a minha cabeça explode de emoções, desilusões, angustias e medos. Sinto raiva da vida, sinto ódio da sociedade, a mesma sociedade que me levou ao Olimpo e depois com um sorriso maquiavélico me enviou ao purgatório. Numa decisão quase masoquista proponho a mim próprio mandar a toalha ao chão mas não sem antes viver as minhas últimas 48 horas de paraíso.

Volto para dentro e conto-lhe a minha decisão. Nada de conversas, nada de medos, receios, dúvidas ou desconfianças. Apenas e só eu e ela, longe de tudo, de todos e do mundo durante 48 horas, um fim-de-semana a dois como se o resto do mundo parasse para nos contemplar e admirar o amor que iríamos viver pela ultima vez. Num gesto calmo e seguro abanou a cabeça concordando com a minha ideia. Sem perdermos tempo pagamos o jantar mal comido e partimos para a primeira das nossas ultimas noites.

Após uma paragem forçada seguimos para a casa que tinha partilhado connosco alguns dos nossos melhores e mais tórridos momentos. O frio que se fazia sentir naquelas divisões vazias era esquecido pelo calor que emanava agora dos nossos corpos e pela luz que brilhava nos nossos olhos. Como se nada se tivesse passado deixamo-nos cair apaixonados nos braços um do outro. Com uma suavidade de cetim deslizamos os nossos corpos jovens e sedentos de paixão num bailado colorido de beijos, carícias e abraços. Os beijos pareciam eternos, olhei-lhe nos olhos e senti-me pela primeira vez na noite feliz. O quarto estava agora aceso, o encarnado da luz encaixava no vermelho das nossas faces. Nada ficou como dantes e no espelho, naquele espelho que eu tinha aprendido a sentir, vi-a sorrir. Esgotados deitamo-nos e adormecemos. Antes de desfalecer cansado abri os olhos e beijei-a com o meu olhar enquanto dormia e chorei.

De manhã partimos, o meu coração estava acelerado, como que a viver os últimos momentos, as ultimas batidas e o quisesse fazer como nunca o tinha feito. Dei tudo de mim nessas 48 horas. Recordo-as como se de uma vida se tratasse, como aqueles minutos fossem horas e as horas fossem dias. A comida soube a mel e as ruas cheias de gente eram ondas que me acariciavam num banho edílico e único. Eu sabia que iria acabar, tal como sabemos que um dia vamos morrer mas ignorei o fim. Os nossos corpos atingiram o auge numa dança de sons e sensualidade. Numa pista cheia estávamos sozinhos, o suor confundia-se com a emoção e a nossa pele misturava-se beijando de forma erótica. De fronte de todos fugimos ao mundo e naquele momento fizemos o melhor amor de todo o tempo que tivemos juntos. O resto da noite foi quente, tal como a relação mas nada jamais ganharia a esse momento, essas duas músicas eternas que duraram uma vida e que não morreram na mudança de disco do dj. O seu corpo haveria de descansar sobre o meu nessa noite, foi a nossa ultima noite, o meu ultimo sono, o seu ultimo suspirar junto ao meu pescoço. Lembro-me do seu dormir, de contemplar o seu rosto, o seu olhar sonhador e o seu sorriso. Podia ter morrido ali, naquele momento que conquistaria a eternidade.

Numa despedida intensa partilhamos cultura, prazeres, caricias e paixões. Deslizamos montanhas e abraçamo-nos conscientes dos últimos momentos que tínhamos. Regressamos, ao mundo, ao nosso mundo que o destino quis que fosse diferente. Doeu muito aterrar mas eu já sabia que nada fica no céu para sempre. Eu tinha tido o meu fim de semana, tinha vivido a vida em 48 horas e tinha chegado a minha hora. Ainda hoje quando fecho os olhos, no meio das lágrimas, consigo visualizar o quarto, a cidade, sentir os seus cheiros e odores e como algo único sinto-a a ela, o quente da sua respiração, a força da sua paixão pela vida, o calor do seu sorriso, o brilho dos seus olhos e a intensidade do seu corpo. Sei que para ela fui um Verão, um momento que nos aquece mas que termina com o mudar do calendário e lamento-o, lamento-o profundamente mas a vida é assim, só nos ensina com as derrotas e algumas pagamo-las bem caro e sem hipótese de compensação ou re-match.

Eu tive o meu weekend in heaven naquele momento mas tenho-a em todos porque na imaginação não há calendários e no sentir não há limites e hoje num raio de sol, num toque de vento eu sinto-a, em cada corpo que acaricio e beijo sinto-a, em cada palavra oiço-a e no final vou sorrir porque em mim ela não morreu e sei que mesmo não por mim algures o mundo vai receber o seu sorriso.

A Jura

Vieste para mim fugidia
Numa noite que se vestiu de dia
Para te fazeres mulher em mim
Soltaste um grito por entre os dentes
Tirastes as roupas já ardentes
E mordiscaste-me as orelhas em latim

Perdeste as mãos em meu peito
Colocaste o teu amor a jeito
À espera do golpe fatal
Beijaste-me como uma louca
Deste-me um orgasmo com a boca
Num pecado original

Beijei-te as coxas e as mãos
Apalpei-te e não aceitei mais nãos
Numa espiral de loucura
Suámos amor e paixão
Fizemos sexo num colchão
E mordemos os lábios numa jura

Friday, May 26, 2006

Mergulho no meu mar

A água está fria, gelada congelando os dedos que procuram abrigo numa luva grossa e protectora. Olho para baixo e não consigo ver o fundo de tão escuro que está. Sinto-me cansado, a ondulação bate-me na cara dando-me chapadas violentas sem sentimento algum. Coloco uma mascara usada e deixo-me descer lentamente usando as barbatanas para me impulsionar. Não vejo praticamente nada. Procuro fugir de um mundo que me magoa e me persegue sem piedade e onde a palavra esperança se vulgarizou mas em nada se concretiza. A ondulação está cada vez mais agitada à minha volta e busco incessantemente a luz de um farol que me guie e me leve até porto seguro. Completamente submerso busco a paz que a vida não me deixa ter. Os peixes fogem de mim numa extensão da solidão que sinto no meu dia a dia terreno. Mergulho mais ainda e acompanho a parede de coral, que morto jaz no fundo da praia. O oxigénio que respiro pelo regulador torna-se agora mais denso, pesado de uma vida sem perdão. Olho para as nuvens que por cima do mar dormem e tento ver um perdão, uma mão que me puxe e me faça voltar a viver sem fugas, sem jogos, sem remorsos ou desgostos. Olho para trás e choro, choro pelo que fiz, pelo que sofri e pelo que fiz sofrer. Errei mais do que me era permitido e a vida faz-me agora pagar por isso torturando-me devagar e de forma cruel como um torturador medieval que corta a sua vitima com uma lamina fria e dura, magoando e flagelando lenta e cruelmente.
Olho uma ultima vez para a superficie e viro-me definitivamente para baixo deslizando o meu cansado corpo por entre rochas e pequenas conchas. O peso do cinto leva-me em paz para o leito do meu mar, só, sem ruido nem luz, mas tranquilo, sereno e consciente. Se pudesse teria feito tudo diferente mas já nadei o que tinha a nadar e da forma como as ondas o quiseram, resta-me agora boiar e esperar ser salvo. Respiro profundamente e saboreio cada milimetro de oxigénio como se fosse o ultimo. Sinto-me bem por conseguir voltar a nadar e sonho agora com o meu farol, algures no meu mar, que me aponte para águas tranquilas e transparentes. Desejo esse mergulho com toda a minha força, fecho os olhos e aperto os braços contra o peito e num impulso com as pernas salto da água lançando os braços para o céu na esperança que se abra para mim.

Wednesday, May 24, 2006

Manhã dificil

O peso abate-se sobre as minhas palperas como se de uma tonelada se tratasse empurrando-as para baixo e forçando os meus olhos a fecharem-se no meio de algumas lágrimas de sono. Tento manter um ar normal, descontraido e ao mesmo tempo concentrado. Faço um esforço por manter a cabeça direita e disfarço os bocejos que a minha boca provoca traindo a minha postura e denunciando o meu cansanço. O sol já aquece há muito o dia mas para mim ainda é de madrugada e o meu relógio ainda marca horas de dormir. Levanto-me da secretária impecavelmente arrumada e atravesso um corredor de biombos com a cabeça bem levantada numa tentativa que não me vejam os olhos. Que peso, que tortura esta, que culpa que sinto agora pela hora tardia da minha fuga para a cama. Estas coisas pagam-se caro e aos olhos de quem manda eu não seria o melhor exemplo. Volto a bocejar quase à saída, não consigo evitar um sorriso quando cruzo olhos com um colega que me apanha neste meu momento mais intimo.
Finalmente consigo sair a porta e em passo lento, quase parado, arrasto-me pela rua até ao café onde diariamente tomo o pequeno-almoço. As pessoas já me conhecem e o sorriso é grande quando chega a minha vez. Hoje sorriem em dobro ao olhar para os meus olhos que estão neste momento bem pequeninos, semi cerrados e vermelhos a toda a volta. Peço um café, bem forte, insisto enquanto me sento numa cadeira qualquer na primeira mesa ao alcance das minhas pernas. Está amargo, quente numa chavena quase a escaldar, é de um negro apetecivel e nem o pacote inteiro de açucar que despejei lá para dentro o torna mais doce. Decido bebe-lo de rajada, como se de um shot se tratasse. A lingua invoca a dor que sente ao ser queimada por tão precioso liquido, enquanto o estomago se prepara por refilar por tão miserável tratamento logo de manhã. Já de pé avanço para a casa de banho onde de mãos bem abertas abro a torneira da água fria num jacto forte e candenciado. Encho as conchas das mãos e encharco a minha cara com toda a água que consigo alcançar. Os olhos ardem-me e um arrepio de frio percorre-me a espinha. Sinto-me a acordar, não sei se da água, se do café ou de ambos mas o facto é que os olhos parecem agora maiores e a moleza desapareceu. Dirijo-me confiante para o escritório e encaro agora os meus colegas com confiança e tranquilidade. Sento-me na secretária, que continua impecavelmente arrumada, e inicio aquilo que se prepara para ser mais um dia de trabalho. Antes de me atirar aos papeis lanço ainda um pensamento sobre a noite e sorrio como uma criança sorri quando contempla um balão que esvoaça na sua mão. De olhar malandro decido finalmente começar a trabalhar.

Monday, May 22, 2006

Bola de Berlim


Todos os dias acordo com a certeza que é nesse dia que vou resistir de forma estoica. É uma luta sem campo de batalha, nem hora marcada aquela que me defronta diariamente. Por detrás de um fino pedaço de vidro, transparente como água e zeloso do seu conteudo, lá estão elas, pousadas em absoluto descanso como inocentes e carentes almas existenciais que nos olham com olhar de desejo e pecado. A sua forma esguia e libinosa é cor que arde nos meus olhos, ofuscando a minha visão e provocando suores frios no céu da minha boca. Os meus lábios tornam-se húmidos e a garganta como seca ansiando tomá-las como suas. As mãos tremem-me de fervor e nem a aparente calma da minha face disfarça tão profundo nervosismo. Repito para mim próprio palavras de ordem, olho várias vezes para a minha barriga e penso no figado que sozinho luta ingloriamente contra uma fornada de fritos que se lhe são postos em cima sem apelo nem agravo. Os olhos fogem por segundos e a ansiedade aumenta, o coração aumenta a pulsação e o sangue magoa agora ao passar. Toco no vidro frio numa tentativa fugaz de resistir, de limitar a minha acção a um inocente toque que de forma infiel traí a minha vontade de não ceder em troca de momentos unicos de prazer. De dentro do seu mundo ela olha-me ignorando todo este sofrimento e apenas ansiando tornar-se minha e repousar ardente nas minhas mãos. Quando chega a minha vez a voz enfraquece, a garganta falha e até os olhos não são agora capazes de fixar o olhar. Digo não tres vezes e finjo pensar noutra coisa enquanto o gerente da casa me pergunta com uma voz estridente e metálica: "É a do costume?". Que palavras duras, que nível baixo é este, que ritual é este que me não me deixa e obriga-me diariamente a pecar. O meu cérebro pensa uma coisa mas da minha boca, da minha própria boca apenas um pequeno som, quase do volume de um gemido se ouve: "Sim." digo eu envergonhado. Para me embaraçar ainda mais o gerente volta à carga com uma não menos cruel: "Tem preferência?" ao que eu respondo de pulmões vazios: "a maior e mais cremosa." Já com ela nas mãos, seguro-a de forma firme e de olhos nos olhos hesito num último segundo. Milhares de pensamentos me invadem a alma neste momento mas em nenhum deles a palavra pecado encaixa tão bem como no acto que estou prestes a fazer. Rasgo o papel que no bolso das calças gritava por dieta e atirou-me a ela com toda a força que ainda resta no meu corpo. Em poucos minutos faço-a minha e saboreio-a como quem se deleita com o melhor dos sabores. Doce, cremosa, com pedaços de prazer nas suas pontas estaladiças enquanto o seu corpo torneado escorre nos meus lábios. Tudo nela me encata, tudo me seduz e nem a consciencia que me pesa atenua o prazer que sinto naquele momento. Naqueles cinco minutos da manhã, acompanhado por um café curto faço do café um paraíso e da mesa a minha cama. Naqueles cinco minutos esqueço o resto do mundo e dedico-me como um eterno apaixonado à minha bola de berlim.

Saturday, May 20, 2006

Perdoar de forma hipócrita

Perdoar, uma palavra tão simples e de tão complicado uso. As pessoas fazem uso dela para exibir alguma qualidade escondida e por vezes, muitas vezes mesmo, cinica. Perdoar é mais que um acto de aceitar os erros e falhas de outro, é esquecer essas falhas, não as usar como arma e não fazer delas peças de uma pena perpetua que é aplicada a quem supostamente foi perdoado. Neste mundo todos falhamos, uns mais que outros, uns com maiores consequencias e outros ainda com maior maldade, mas devemos ter a consciencia que esses erros têm o seu preço e depois de pago devem ser aceites. Nas relações humanas existe muita maldade e as pessoas tornam-se nalguns casos, sem explicação aparente, de cariz maléfico. Até os condenados depois de cumprirem a pena tem uma tentativa de integração e não merecem que lhes voltem a atirar à cara aquilo que já pagaram.
Sinto-me como quisessem a minha vida como pena, uma constante lembrança do que fiz e dos males que causei. Acusações que usam momentos há muito passados para poder magoar e obrigar-me a pagar de novo o que já eu tanto paguei. As pessoas deviam pensar às vezes que nem tudo nelas é perfeito, que os seus actos também magoam e magoaram, e nalguns casos muito, mas aí está a diferença da palavra perdoar entre mim e aqueles que à minha volta gravitam. Às vezes vejo-me em situações em que lamento gostar tanto de certas pessoas, gostar ao ponto de me deixar magoar para as ver bem, mas que valor dão elas a isso? Estou cansado e muito honestamente exausto de ver tanta hipocrisia. Querem que eu pague para sempre, quando elas não pagaram nem 5 minutos.
Decido na solidão da multidão que se calhar já não vale a pena lutar por quem me matou e só não tem coragem para o dizer. Seguir a vida às vezes dói muito mas dói de certeza menos que respirar sem vivê-la. Mereço ser tão feliz como os outros e tenho muito para dar. Quero muito dar mas não o posso fazer a quem não quer receber, só me resta desejar felicidades, afastar-me e rezar por elas todas as noites e no meu coração arranjar um canto onde possa descansar, voltar a sentir e ser feliz. Muitas vezes não compreendo o mundo mas neste momento estou mais preocupado comigo e não vou esperar muito mais tempo para que o mundo olhe para aquilo que eu lhe dou.

Wednesday, May 17, 2006

O efeito do seu decote

Hoje sentei-me ao pc para escrever um pouco mais do meu livro e nada me saía. Cada linha que escrevia eram duas que apagava, nada fazia sentido na história e até os personagens se tinham juntado para me irritar. Já não escrevo há alguns dias e por isso coloquei uns phones e pus uma musica que adoro e me inspira: blues. De repente uma fotografia antiga fez-me perder nas nuvens e num transpirar de emoções decidi perder a vergonha que diariamente me acompanha e largar no teclado o que a minha mente ousava descobrir. Este foi o resultado:
Passou os olhos por ela com as saudades de quem ama e está distante. Num acto irreflectido despiu-lhe a camisa e perdiu-se no meio dos seus seios de forma terna e carinhosa, beijando suavemente cada cm de pele e provocando nela uma excitação tal que os mamilos o cumprimentaram numa dança empinada bem perto dos seus lábios. Desceu um pouco e saboreeou o umbigo da sua companheira enquanto as suas mão assentavam no ventre quente e desnudado sedento de ser tocado e acariciado e mostrando o mapa do prazer através de movimentos lentos de prazer. De forma calma abriu o seu mundo para ele e sem pudor algum trocou as calças por beijos intensos e provocadores.
Por fim viu-a nua à sua minha frente, bela, quente e desejosa de si. Deitou-a em cima da secretária enquanto que com a mão afastou o que nela se encontrava. De forma firme penetrou-a deixando as suas pernas presas à cintura num nó que nem Deus ousaria desatar. Com movimentos cadenciados fê-la dele enquanto os seus lábios se perdem entre o pescoço e a boca já húmida de tanto prazer. De forma brusca afastou-o encostando-o numa parede fria e branca. As costas arrepiam-se agora de dor e tesão enquanto ela desce lambendo e trincando em cada pedaço que toca, mandando-o fechar os olhos e segurando nos testículos com ambas as mãos brincando com eles com a língua enquanto roça os dentes na glande. Decidida e sem receios coloca o pénis na sua boca e quase de forma inata faz-o seu lambendo e chupando à medida do seu ritmo. Ele implora-lhe que paresse mas respondes-lhe arranhando-o no rabo nu e frio.
Finalmente pára, sádica e mordaz encosta as costas ao seu peito e descai as ancas para trás. Debruçada sobre nada espera por ele enquanto ele avança entranda decidido a faze-la mulher. Geme de prazer e agarra a cadeira como quem agarra a vida. os dois corpos suados lutam agora numa sala vazia transbordando prazer, suor e sexo. Subitamente, num grito extasiante sente o orgasmo e dá-lhe o seu, sem timidez, sem medos e de olhos postos um no outro. já de pé beija-o abraça-o em volta do pescoço. Numa troca de olhares despedem-se e olham-se pelo canto do olho ao sair da sala enquanto ele lança um sorriso ao vê-la a voltar a vestir a camisa.

Saturday, May 13, 2006

O teu olhar por cima de uma nuvem


Quando olho para o céu procuro a tua nuvem, o rasto do teu perfume, o fio de sol que me aquece e que desce de ti. Não te vejo, muitas vezes estás ausente, longe de mim e do meu mundo como desaparecida da minha realidade e apenas verdade nos meus sonhos. De ti guardo o perfume, o tacto e o sentir com que me tocavas nas noites em que fomos intimos. Ainda recordo junto à lua os teus cabelos. Eram loiros, lindos, cheios de vida, enormes no seu esplendor e carregados de força. Hoje as nuvens olham-me com os teus olhos, os mesmos olhos que me fizeram apaixonar e soltar de dentro de mim o desejo. Eram puros, ternos e quentes os teus olhos, doces como o mais branco dos açucares e sensuais num tom tal que me fazia tremer sempre que com os meus se cruzavam.
O teu peito, pequeno, macio e tímido, brincava comigo por entre botões de camisas meio abertas que me seduziam com gotas de prazer escondidas no mais intimo de ti. Lembro-me de sonhar com eles e de com eles brincar no mais profundo da minha imaginação. Quando relembro sonhos não posso esconder aqueles que senti com as tuas ancas e com as pernas que delas nasciam. Eram esbeltas, muito brancas, torneadas e sexys. A tua figura paira sobre mim num céu carregado de sensações e memórias, um turbilhão de arrepios e gemidos, de suores e abraços quentes. Hoje não te vejo mas olho para o céu e escondida por detrás de uma nuvem tu olhas-me com o olhar de quem ama mas o mundo afastou.

Wednesday, May 10, 2006

Ponto de ordem na literatura

Ao ler o meu blog eu próprio me baralho. Ora são textos durissimos, ora leves, ora histórias como a do Paulo que obviamente nunca existirão, até textos como o "apetece-me dançar" que vêm do meu mais profundo sentir. Esta confusão de emoções, sentimentos e palavras baralhou os meus amigos e com razão pelo que devo fazer aqui um ponto de ordem. Este blog não é um diário é mais um libertador de estados de espirito. Tem alguns textos (que quem me conhece bem) sabe que são do fundo da minha alma e tem outros, que embora sejam sentidos, são pura ficção e servem apenas para massacrar o teclado do meu já gasto pc. No fundo é como o meu livro tem uma parte verdadeira, histórica e têm o romance, a minha imaginação. Aqui vai uma dica, o texto de ontem era eu no meu mais profundo sentir, o de hoje é uma homenagem a um pedido de um texto mais leve e divertido. Continuem escrevendo e dêem asas à vossa imaginação. Beijos e abraços.

O fato bege...

O Paulo era um rapaz normal, recém licenciado, recém empregado e recém traído, embora esta parte a namorada ainda não lhe tivesse contado. Naquela manhã Paulo levantou-se como todos os dias às 7h. O sol brilhava no céu como se fosse verão e Paulo decidiu escolher o seu fato bege. Ficava horrível naquele fato mas Paulo adorava e achava que ficava o máximo e aqui entre nós a namorada queria-o era dali para fora. Fez-se ao caminho marmita debaixo do braço com um cheiro a carne assada que ultrapassava em muito o nível máximo de emissão de gases admitido dando um toque de perfume carnal à já estranha personagem. Paulo trabalhava numa dependência bancária na sua pequena cidade e todos o conheciam desde pequenino. A sua alcunha era o carolas, não por ser demasiado esperto mas porque era difícil falhar com uma fisga numa cabeça daquele tamanho.

Era um dia importante para o Paulo, ia conhecer o seu novo chefe. A parte da manhã passou depressa, sem muitos clientes e sem fazer muitas asneiras. Decidiu almoçar no jardim em frente ao banco e numa sombra bem escolhida espalhou o farnel. Quase de imediato foi atacado por um bando de pombos em busca de uma tira de pão. Na confusão da luta entornou sem querer o molho da carne nas calças enquanto um pombo mais atrevido fazia pontaria. Adivinhem onde acertou? Claro, em cheio no meio da testa. Com a descarga do animal a escorrer-lhe pelo meio dos olhos Paulo entrou no banco e de volta ao seu gabinete deu de caras com um homem sentado na sua secretária.

- Boa tarde Paulo, atrasado e logo hoje? Sou o seu novo chefe.

Dizendo isto estendeu-lhe a mão. Paulo acedeu ao cumprimento nem se lembrando do molho da carne. Em segundos a mão e a manga da camisa do chefe estavam cheias de gordura e pedaços de carne. Depois de um chorrilho de gritos Paulo foi enviado para casa para uma troca rápida de indumentária. Paulo correu desalmadamente por aquelas ruas empedradas. Ao chegar a casa repara na mota do seu grande amigo Ricardo estacionada à porta, não liga e entra como um foguete na casa. No sofá da sala a sua namorada semi nua entretia um muito divertido Ricardo. Ao trocarem olhares Paulo nem queria acreditar e quando se preparava para esgrimir a sua fúria eis que a namorada lhe lança:
- Já em casa? Eu não acredito, tenho estado a preparar-te uma surpresa de uma dança erótica e tu estragas-me a surpresa, és indecente.
- Mas, mas eu apenas..
- Não digas mais nada, simplesmente saí.

Desolado Paulo saí para a rua, não pode voltar ao banco, não pode entrar em casa e está sujo dos pés à cabeça, aliás leia-se, ao cabeção. Paulo acabou o dia no mesmo jardim onde o começou recém sujo, recém despedido e recém humilhado por uma namorada que além de traidora até tinha sentido de humor. No meio de tudo isto o nosso herói não deixou de exclamar:
- Que pena aquilo do pombo, logo hoje que estava com o fato bege....

Monday, May 08, 2006

Hoje chorei a tua morte


Sozinho numa sala escura abro os olhos para ver a luz das lâmpadas que apagadas iluminam a minha alma. Saboreio o sabor amargo e ácido da solidão. A minha língua, outrora molhada de beijos e carícias, é hoje um pedaço de pó frio e insípido que sufoca a minha garganta já cansada de respirar. As lágrimas correm-me agora pela face marcando-me a pele de forma dura e cruel enquanto os olhos me ardem tanto que me doem só de mexer levemente as palperas. Esfrego a cara e com as mãos molhadas de dor aconchego o peito massacrado e desgastado de tanto sofrer. De olhos fechados sinto o sangue escorrer pelas minhas veias queimando-me a carne e delicerando-me o corpo de angustia. Acendo a luz e de joelhos olho-me ao espelho. Estou desfeito, sou um farrapo do que já fui, em tempos idos, sem retorno e sem história. Pergunto-me porque é que a vida me odeia, porque é me odiou tanto ao ponto de me matar toda a felicidade que sentia. Hoje eu sei que te amei no meio de um vendaval de emoções e num turbilhão de coisas que eu não controlei e que me levou à ruína. Aliás foi mais, foi muito mais, foram desejos e beijos que eu jamais provei igual, debaixo de estrelas cúmplices e apaixonadas. Sinto saudades tuas, dos teus beijos, dos teus abraços e daquilo que só tu, apenas com um olhar, me conseguias dar. Manténs-te por perto quase ao alcance de um toque mas depois foges, corres para longe de mim como o diabo foge da cruz e deixas-me assim num quarto vazio, cheio de recordações e vazio de ti. Quero-me levantar e faltam-me as forças, estou demasiado cansado para lutar e deixo-me cair. O corpo dói-me, uma dor imensa que corta e me deixa em sofrimento constante e sem vontade de sorrir. Deito-me agora num chão frio, desnudo de calor e o peso dos olhos abate-se como toneladas em mim. Procuro a tua imagem no meu intimo e com o teu sorriso nos meus beijos deixo-me adormecer. Uma dor aguda em cheio no coração faz-me ver que já não estás ali e choro, choro muito. Caso não percebas, caso não consigas ver isto sou eu de joelhos com o coração em sangue e estes jogos estão a destruir-me, matando-me diariamente e depois numa tortura maquiavélica ressuscitando apenas para me poder fazer sofrer outra vez. O meu cérebro já desgastado vira o meu olhar para uma foto nossa e num movimento irreflectido viro-a para baixo numa tentativa que me leve ao descanso. Cheio de dor me aconchego, no meu peito dorme agora um grito mudo de tanto te querer. Dsespero, sinto um desespero que dentro de mim me tortura e digo para mim próprio num murmúrio tão baixo que nem a minha alma o ouve, digo que morreste e choro a tua morte. A morte é eterna tal como o verdadeiro amor e não encontro melhor homenagem que aceitar a tua partida amando-te numa lágrima que rezo eterna. "Se eu soubesse que morrendo tu me haverias de chorar, por uma lágrima, por uma lágrima tua, que alegria me deixaria matar"

Friday, May 05, 2006

Jantarada



A sala era pequena para aconchegar toda aquela vista. Lisboa estava rendida aos pés daquele vidro enorme que nos servia de janela e transportava para telhados distantes e luzes foscas que iluminavam as ruas despidas da mouraria. Ao longe o ar imponente da cidade iluminava abria as nossas almas em tons altivos e de orgulho sobressaindo na escuridão da noite. A mesa estava quase cheia quando cheguei. A luxuria da conversa era elevada e a degustação das palavras era feita em volume alto e acompanhada de gargalhadas soltas e abertas. Sentei-me na ponta do grupo, confesso que estava cansado mas ao mesmo tempo não me apetecia dar. Gosto de todos eles, bem alguns não conheço tão bem para dizer isso, mas agrada-me a sua companhia mas ontem algo me fazia sentir ausente. Sentia-me como se estivesse de fora a observar um jantar no qual não participava. Refugiei-me no meu canto e matei as mágoas num chouriço assado servido num pão que pecava por ser frio mas que se deixava comer de forma macia e agradável ao paladar.
Ao sabor de uma água mantive-me de fora dando aso aos meus pensamentos mais intimidos e navegando por mim a dentro como se nada à volta existisse. Confesso que também não senti que o grupo sentisse a minha falta, estavam demasiados entretidos com as suas histórias e eu agradeci por isso. Estava absorvido nos meus pensamentos quando um prato de porco com natas interrompeu o meu espirito e colocou-se à minha frente desafiando a minha tentação. Devorei-o sem grande prazer, precisava de comer, estava fraco de um dia mal alimentado e cansativo mas a comida sabia-me a pó, aquele pó seco e arido de um deserto de pedras e calhaus onde o sol queima mas não brilha, num ardor de arrancar a pele e fritar a carne que luta para não se soltar dos ossos doridos de tanta pancada.
Decidi caminhar um pouco pela sala, acalmar o meu espírito naquela cidade que é minha e que à noite chorava comigo pelas pedras sujas de uma calçada que é portuguesa e traz consigo fado e guitarras. Quase que lendo os meus pensamentos o dono do restaurante coloca uma música de fundo. É jazz negro, melancólico, sofrido, uma música que entra em sintonia comigo e pela primeira vez na noite me faz sorrir. Olho à volta e fecho teatro, todo aquele jantar é teatro. Quando será que as pessoas deixam cair as máscaras e parám por momentos de jogar jogos com a vida? Talvez nunca, talvez isso seja impossivel, talvez nem valha a pena acreditar.
Chegou o momento de ir embora e confesso que o desejei desde o minuto em que pousei o garfo após a ultima garfada de carne. Estava cansado, estava extremamente cansado e dei por mim encostado a um pilar, sozinho, de cabeça baixa e perdido dentro de mim. Os meus companheiros de noite estavam animados e ainda me conseguiram arrastar até um bar, felizmente estava fechado e depois de filosofar sobre as estrelas e planetas ruma-mos a casa fechando a noite. Não percebo porque não desfrutei de um jantar de amigos, costumava adorar, talvez fosse o cansaço, talvez fosse o tempo, ou talvez fosse eu, possivelmente fui eu, mas já passou. A sensação que tenho é que estou sempre a ser avaliado e ontem não quis mais, não quis dar chances de ser comentado, de poderem avaliar-me, fiquei quieto no meu canto e não procurei holofotes nem lugares especiais na conversa, talvez assim, despercebido, consiga ter menos pressão e ser mais feliz.

Wednesday, May 03, 2006


A tarde já ia alta com um sol orgulhoso e forte, cheio de calor e raios de luz que inundavam a baixa da cidade dando uma cor de verão às montras já despidas de clientes. Arrastei o meu corpo pelas ruas em busca de um local onde atracar, um porto seguro, um paraíso para assentar os ossos, que cansados reclamavam por paz. Numa calçada empedrada da velha Lisboa busquei inspiração para uma música e nas suas pedras já gastas dancei uma melodia inventada enquanto os olhos se perdiam nas paredes de mais uma igreja que brotava do chão imortal e católico. Os carris do eléctrico, brilhando de uso, fazem-me escorregar e deslizo suavemente até uma praça onde as arcadas reinam e cercam o centro espaçoso e fausto em história. A estátua do Rei com o seu cavalo esbranquiçado enfrenta os ventos vindos do rio que de forma suave cortam as palmeiras da marginal. Em passo acelerado subo uma colina atrás do sol que me foge por entre os telhados cor de tijolo da cidade. Brinco com os seus raios por ruas, ruelas e avenidas as rotundas não me intimidam e nem os cruzamentos me afastam do seu calor. Dou por mim numa pequena praceta, linda no seu encanto próprio de recanto escondido do mundo. As paredes cor de mármore dão um ar imponente ao local que cintila de paixões e histórias, sonhos e poesias. Num canto uma esplanada, não tinha muitas mesas, quatro, talvez cinco, meia dúzia no máximo. O empregado de ar jovem sorria com aquele sorriso aberto de quem gosta de receber. Sentei-me, humm que cadeiras confortáveis, ajeitei-me entre almofadas e olhei para a lista nova e ainda por estrear. Um batido pedi com vontade, não um batido qualquer, pedi um de banana com gelo, imenso gelo para acalmar o calor daquele fim de tarde saboroso, agora em tons de morango.

Bebi a minha bebida enquanto namorava as muralhas do castelo do outro lado da cidade. São imponentes, marcadas por sangue e lágrimas e gentilmente espalhadas sobre pequenas ruas de casas gastas e rostos cortados pela vida. As ameias ainda com o cheiro do azeite quente nos seus buracos espreitam como meninos traquinas por entre as poucas nuvens que pintam que por ser azul é nosso. Desço o olhar e beijo a Sé com as suas torres perfeitas de quem aponta a Deus e cumprimenta o homem. Um edifício de fé e arte que governa da Madalena uma paróquia de gente boa. Volto-me agora para o Tejo, e tão bonito, um olhar mal dado e para-me a respiração. As gaivotas mergulham nas suas águas esverdeadas com um perfume de naus e caravelas carregadas de açafrão e canela. Milhares de vidas já cruzaram aquelas águas, histórias perdidas nas marés de muitos mares e contada pela espuma de cada onda.

De copo na mão despeço-me do empregado que gentilmente matou a minha sede e volto de sorriso nos lábios para o labirinto de lojas e ruas, para um mar de pessoas, de vidas, uma imensidão de amores e encontros, de desgostos e corações quebrados que vagueiam esperançados pelo Chiado. Ah como eu adoro este nosso Chiado, sinto o seu perfume de fado assim que ponho os pés na Rua Garrett e delicio-me com as suas cores de primavera atrevida. Sabe sempre bem voltar a casa. Já imaginei longas viagens aqui, paixões e loucuras foram aqui sonhadas, contratos assinados, namoros rompidos e vidas partilhadas, de tudo já fiz aqui mas acima de tudo vivi aqui, em cada pedra do chão, em cada edifício que não morre, em cada esplanada e em cada loja. Tudo me faz respirar melhor, até o fumo, e no final do dia quando o sol dorme e a lua reina o Chiado não morre, renasce príncipe do escuro dando vida ao Bairro que é Alto e que das suas tascas, bares e restaurantes nos cumprimenta com ar comprometido como aquele namorado que de mão dada passeia tímido pela rua. É assim o meu Chiado, o nosso Chiado, aquele Chiado de Pessoa, de Garrett, de Lisboa e Portugal, de todo o mundo e de todos, com o mesmo sorriso com que recebe uma criança.

Arrependimento

Não costumo escrever sobre realidade e muito menos fazer deste blog um diário mas hoje sinto que preciso de por algumas palavras cá para fora pela força com que se abateram sobre mim. Hoje estive debaixo de fogo durante algumas horas. O meu passado, a minha forma de estar, as minhas posturas e atitudes, os meus olhares e comentários, tudo foi analisado ao pormenor de forma critica e nalguns casos injusta. Era uma reunião de trabalho e para não variar fiz o que melhor sei fazer ou seja trabalhei, esforcei-me mais, dediquei-me mais e como estava melhor preparado e dominava o tema saí da situação em que outros me quiseram meter. Não deixei no entanto pensar para dentro como seria possivel pensarem aquelas coisas de mim e porque. Já passei muito na vida, quem me ouvir falar vai pensar que sou um velho, mas o que é certo é que já tenho muitos quilometros nas pernas e profissionalmente já passei por muito, vi muito e fiz muito. Não o devo dizer, não fica bem a ninguém gabar-se do que já fez ou deixou de fazer mas confesso que há momentos em que não há paciência para miudos tão arrogantes como cobardes. Que sabem eles da vida? E que sabem eles sobre mim? A resposta a ambas as perguntas é muito pouco.
Depois de analisar claro que sei que fiz muitos erros, menti, enganei, usei os outros, eu sei lá, e não me orgulho, até me arrepio ao admitir mas sei que hoje tenho de o fazer. Magoei pessoas que amei, magoei pessoas que amo e fi-lo sem hesitar, sem pestanejar e porque? Porque fazemos nós coisas que nunca fariamos numa situação normal? A resposta a esta pergunta não a sei dar, ambição, espiral de loucura, pressão profissional e da sociedade que nos rodeia, tudo pode ser visto como resposta mas a verdadeira resposta está dentro de nós. Hoje sou um homem diferente, orgulhoso das coisas boas que fiz mas terrivelmente arrependido de tudo o que não devia ter feito. Sei que não posso mudar o passado mas posso aprender com ele e mudar. Ao nível profissional isto chama-se amadurecer e tudo é permitido, em tudo estamos a tempo. Na família olham apenas como a "fase do armário" e o amor incondicional de uma mãe ou de um pai tudo perdoa e para eles somos sempre os melhores. Os amigos pouco se importam com isso e as verdadeiras amizades são eternas. O amor, ah esse cancro maldito que me rói e que sempre foi a minha maldição, esse não perdoa e não fica para nos ver arrepender. Se pudesse mudar uma coisa na minha vida seria não magoar quem nos ama e está disposto a fazer vida ao nosso lado.
Hoje sou um pessoa diferente, ponderado, calmo, racional e o mais honesto que consigo. Não nego o que fiz nem tento não pagar por isso mas quero pagar o justo e não cumprir uma prisão para a vida sem direito a felicidade ou nova oportunidade. Quero voltar a ser feliz, mas quero fazer isso como um todo e não pondo máscaras para isso porque assim não serei mais que uma personagem criada para iludir alguem durante um certo tempo. Mereço ser feliz mas todos conhecemos a história do Pedro e do Lobo e a sociedade é cega. Para ser honesto estou-me nas tintas para a sociedade, para o que pensa de mim, do meu trabalho ou do meu cv. O que fiz teve a sua importancia e o seu contexto. Cheguei longe, fiz muito por muita gente e acima de tudo fi-lo por uma convicção profunda nos meus ideais. Tenho saudades de sorrir mas tenho tantas saudades daquele alguém especial sorrir ao meu lado, partilhar os seus medos e desejos e sonhar acordada comigo. Nunca ouvi quem estava disposto a falar comigo e só peço a Deus para não o voltar a fazer porque quem nos ama merece ser ouvido. Às vezes passamos pelas coisas e nem damos por elas e quando nos apercebemos e mudamos depois é o mundo que não quer ver. Vou continuar a lutar para mostrar aquilo que sou, o que valho e o que mudei. Só eu sei a coragem que é necessário para o admitir e a força para corrigir tudo o que se fez mas eu tenho tudo isso e sei que vou conseguir só espero ir a tempo de ser feliz.

Monday, May 01, 2006

30 post


Este é o meu trigésimo post. Parece que foi ontem que uma amiga me convenceu a criar um blog, coisa que eu até aí recusava com fervor por ter vergonha de mostrar os meus textos, e eis que já escrevi 30. Já por aqui pus de tudo, muita ficção e um suave toque de perfume de mim. Amores, desamores, paixões e noites mais quentes que o mais quente dia de verão, desgostos, emoções, opiniões. politiquices e parvoices, tudo já foi alvo dos meus desvaneios neste teclado que castigado pelos meus dedos continua a trabalhar sem descanso. O meu post preferido continua a ser o "Apetece-me dançar", diz-me muito esse texto e saíu-me numa manhã de chuva melancólica e fria. Tenho tentado escrever todos os dias. Sim Bé o livro está a andar, já matei mais uma personagem e está cada vez mais perto do final que não revelo mas já está escrito. No outro dia distraí-me a ler textos meus de 94, meu Deus, 94!! Já nem me lembro da minha idade em 94 mas já não era menor. Tanto se passou de lá para cá, tantas mudanças, tantas caras, amigos que vieram e foram, paixões que foram vividas no limiar da loucura e morreram no limite da solidão. Anos de sorrisos e choros, de encontros e desencontros mas acima de tudo de emoções. Nada os trás de volta mas em cada pensamento os revivo. Já dizia o cantor "recordar é viver" e eu vivo todos os dias. Descobri que o faço na ponta dos meus dedos e com os meus textos projecto o futuro na forma de desejos e ambições. Vou continuar a escrever, às vezes nem eu sei porque, mas se tivesse de dar uma explicação seria pq aqui os meus sonhos são materializados e posso sair de mim e inventar personagens e paisagens, quadros e pinturas, canções e poesias. A vida inspira-me, as pessoas, o sol, a chuva, a minha cidade e a cidade dos outros, praias e mares distantes e acima de tudo aqueles de quem um beijo sabe a mel e por quem mudava a minha vida e o fazia sorrindo. A todos aqueles que me leem e tem a paciencia de aturar as minhas linhas de loucura um abraço especial pq é convosco que partilho as mais intimas das minhas emoções.