Thursday, November 23, 2006

Alentejano ao jantar

Ontem foi dia de experimentar um novo restaurante. Numa noite que se adivinhava chuvosa parti à aventura de novos sabores e espaços. A escolha acabou por recair em algo que me é muito querido não só pelos sabores mas pelas memórias que me leva a invocar. Um restaurante de comida alentejana é sempre visto como um local de prazeres gastronómicos, vinhos apelativos e sobremesas conventuais. O serviço não é formal, bem ao estilo do povo alentejano, mas honesto e amistoso. É isso que se espera quando se visita um destes locais, um ambiente descontraído, boa comida e vinho de qualidade.

A escolha de ontem não podia por isso ser melhor. Situado numa zona de Lisboa onde os bons restaurantes não abundam, pana não dizer que não existem, o D’Avis dá-se a conhecer através de duas pequenas portas de ferro pretas recordadas com vidros finos e transparentes que defendidos por pequenos cortinados de renda brancos nos desvendam a sala de jantar. Ao entrar o visitante depara-se com um ambiente quase campestre, de um Alentejo de início do século passado onde ferramentas agrícolas são expostas na parede ao lado de peças tradicionais de artesanato. Algumas imagens completam a decoração num estilo rústico e simples. A receber os visitantes uma pequena mesa lateral ostenta os doces que mais tarde serão servidos. É uma primeira imagem imponente que nos deixa com água na boca e a vontade de saltar já os pratos principais. A sala não é muito grande não deixando no entanto de ser um espaço interessante para um jantar convívio de um grupo restrito de amigos.

Já na mesa o simpático empregado “oferece” dois pequenos pratos onde imperam as famosas farinheiras fritas, as morcelas de sangue, o chouriço e torresmos fritos. Ao lado pão alentejano, broa e azeitonas devidamente condimentadas completam as entradas. Destaco ainda a opção de uns ovos com farinheira, muito em moda agora nalguns restaurantes, mas especiais quando feitas por mãos alentejanas. Após esta “leve” degustação são servidos os pratos principais, Porco com Marmelos e Migas no pingo do Entrecosto. Confesso estar um pouco receoso dos marmelos habitualmente ligeiramente ácidos. A primeira garfada revelou-me um sabor quase açucarado dando à carne um travo único e de nos fazer retorcer os lábios de prazer em cada pedaço mordido. No tradicional, as migas, estavam no ponto, com o sabor bem apurado ajudadas por um entrecosto perfeitamente cozinhado e coberto por um molho irresistível.

Findos os pratos principais, e já sem grande espaço para mais, a tentação falou mais alto e quando dei por mim tinha defronte dos meus olhos (e estômago) um prato que combinava uma fatia de sericaia coberta de uma camada generosa de encharcada. O sabor a canela subiu em mim como uma flecha levando prazer a cada pedaço do meu corpo. Fechei com um café aquecendo um estômago agradecido por tal repasto.

A oferta de vinhos é variada e cobre todas as regiões alentejanas. O tinto predomina e a escolha é tão difícil que deixo para cada um essa decisão, no entanto não consigo deixar de dar um “empurrão” sentimental à reserva de Reguengos que se encontra em lugar de destaque na garrafeira do restaurante.

Restaurante D’Avis
Rua do Grilo, 96/98
1900-707 Lisboa
(Ao lado da Igreja do Beato)
www.restaurantedavis.com
tel. 218681354
Relações Públicas Jéróme Grouillére
Gerência Maria de Jesus
Encerra ao Domingo

Bom apetite e aquele abraço

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