Friday, November 24, 2006

Abraça-me

Abraça-me suavemente ao luar
Num abraço terno, macio e sincero
Que nos une e não nos deixa separar
E me faz sentir a tua pele e o teu cheiro

Abraça-me com o teu peito
Onde me perco na volúpia do teu ser
Onde pequenas gotas de suor erotizam os meus sonhos com preceito
E me levam para terras de gemidos e prazer

Abraça-me com os teus olhos
Naquele olhar carinhoso com que me beijaste a primeira vez
Com o brilho suave de quem ama
E a indecência ardente de quem deseja

Abraça-me nas tuas mãos
Rasga-as pelo meu corpo
Numa luta de vontades e paixões
Num turbilhão de toques e emoções

Abraça-me em ti
Porque em ti me quero deitar
Porque para ti quero viver
Porque por ti aprendi a amar

Thursday, November 23, 2006

Alentejano ao jantar

Ontem foi dia de experimentar um novo restaurante. Numa noite que se adivinhava chuvosa parti à aventura de novos sabores e espaços. A escolha acabou por recair em algo que me é muito querido não só pelos sabores mas pelas memórias que me leva a invocar. Um restaurante de comida alentejana é sempre visto como um local de prazeres gastronómicos, vinhos apelativos e sobremesas conventuais. O serviço não é formal, bem ao estilo do povo alentejano, mas honesto e amistoso. É isso que se espera quando se visita um destes locais, um ambiente descontraído, boa comida e vinho de qualidade.

A escolha de ontem não podia por isso ser melhor. Situado numa zona de Lisboa onde os bons restaurantes não abundam, pana não dizer que não existem, o D’Avis dá-se a conhecer através de duas pequenas portas de ferro pretas recordadas com vidros finos e transparentes que defendidos por pequenos cortinados de renda brancos nos desvendam a sala de jantar. Ao entrar o visitante depara-se com um ambiente quase campestre, de um Alentejo de início do século passado onde ferramentas agrícolas são expostas na parede ao lado de peças tradicionais de artesanato. Algumas imagens completam a decoração num estilo rústico e simples. A receber os visitantes uma pequena mesa lateral ostenta os doces que mais tarde serão servidos. É uma primeira imagem imponente que nos deixa com água na boca e a vontade de saltar já os pratos principais. A sala não é muito grande não deixando no entanto de ser um espaço interessante para um jantar convívio de um grupo restrito de amigos.

Já na mesa o simpático empregado “oferece” dois pequenos pratos onde imperam as famosas farinheiras fritas, as morcelas de sangue, o chouriço e torresmos fritos. Ao lado pão alentejano, broa e azeitonas devidamente condimentadas completam as entradas. Destaco ainda a opção de uns ovos com farinheira, muito em moda agora nalguns restaurantes, mas especiais quando feitas por mãos alentejanas. Após esta “leve” degustação são servidos os pratos principais, Porco com Marmelos e Migas no pingo do Entrecosto. Confesso estar um pouco receoso dos marmelos habitualmente ligeiramente ácidos. A primeira garfada revelou-me um sabor quase açucarado dando à carne um travo único e de nos fazer retorcer os lábios de prazer em cada pedaço mordido. No tradicional, as migas, estavam no ponto, com o sabor bem apurado ajudadas por um entrecosto perfeitamente cozinhado e coberto por um molho irresistível.

Findos os pratos principais, e já sem grande espaço para mais, a tentação falou mais alto e quando dei por mim tinha defronte dos meus olhos (e estômago) um prato que combinava uma fatia de sericaia coberta de uma camada generosa de encharcada. O sabor a canela subiu em mim como uma flecha levando prazer a cada pedaço do meu corpo. Fechei com um café aquecendo um estômago agradecido por tal repasto.

A oferta de vinhos é variada e cobre todas as regiões alentejanas. O tinto predomina e a escolha é tão difícil que deixo para cada um essa decisão, no entanto não consigo deixar de dar um “empurrão” sentimental à reserva de Reguengos que se encontra em lugar de destaque na garrafeira do restaurante.

Restaurante D’Avis
Rua do Grilo, 96/98
1900-707 Lisboa
(Ao lado da Igreja do Beato)
www.restaurantedavis.com
tel. 218681354
Relações Públicas Jéróme Grouillére
Gerência Maria de Jesus
Encerra ao Domingo

Bom apetite e aquele abraço

Wednesday, November 22, 2006

Sugestão de Natal

Não é meu hábito falar de lojas mas o Natal está à porta e todos nós acabamos por correr por esses mal fadados mundos de corredores e montras. Assim e já que a lista de pessoas a quem queremos oferecer algo especial já está mais ou menos definida, as lojas especializadas em alimentação começam a sugerir-nos com cabazes e pequenas ofertas verdadeiramente diferentes. É o caso da Oil & Vinegar, no Centro Comercial Colombo, que aposta em azeites, vinagres e outros temperos, louças e acessórios, chocolates e cogumelos, velas cintilantes e conjuntos de fondue. Tudo para que a época natalícia possa ser apreciada com o devido requinte. É publico que não gosto do Colombo, mas actualmente esta é a única loja da marca em Portugal, dizem-me as minhas fontes que em 2007 teremos uma na Av. Da Republica mas até lá…
Uma visita à Oil & Vinegar nunca se resume a “dar só uma vista de olhos”. Ali está uma amostra de sabores de todo o mundo, que ultrapassam os temperos englobados no nome da loja. Na selecção de produtos surgem, é claro, os melhores azeites e os vinagres balsâmicos, sendo igualmente referência os molhos mediterrânicos, as ervas e especiarias, as misturas de aromas orientais, o sal marinho especial e os picantes diversos, os cremes doces de sabor único e as azeitonas italianas. Um mar de prazeres e sensações que nos percorrem o corpo e dão verdadeiro sabor à vida. Um toque de classe mas também um aconchegar de alma para quem comer é muito mais que matar a fome.

"Porque a vida também é feita de sabores" é o lema da marca, mas a oferta da loja não se limita aos produtos alimentares. Há também acessórios de culinária, desde pratos e taças para servir os mais variados petiscos aos frascos coloridos, passando pelos garfinhos para picar, misturadores para molhos, um saleiro e pimenteiro eléctrico e ainda uma fonte de chocolate, para sobremesas fora de série. Por isso é que a marca se define como uma “loja de prendas de culinária”, e não uma“ loja gourmet”. Eu iria mais longe e diria que se trata de uma loja onde os presentes tem personalidade, classe e bom gosto, mas atenção, cuidado a quem escolhem oferecer, se o gosto da pessoa não for apurado provavelmente não vai dar importância ao requinte e se calhar até preferia um cd do José Cid.
Para quem quiser provar os produtos antes de decidir o que levar, há mesinhas de degustação espalhadas pela loja do Centro Comercial Colombo. Atenção não cometam o erro de alguns pobres de espírito, provar para decidir não significa abancar para comer!!
Difícil é escolher entre os artigos clássicos, como um bom livro de cozinha, e as novidades como o Dipper, a última moda vinda dos Estados Unidos. O que vale é que na própria loja há inúmeras sugestões e esclarecimentos. Em relação ao pesto, por exemplo, tradicionalmente utilizado para temperar pratos de massa: na Oil & Vinegar, o pesto encontra novas aplicações, seja a barrar o pão, seja em molhos para saladas, batatas ou pratos de carne, ou ainda como enriquecimento de alguns pratos vegetarianos. Além das ideias diferentes para dar uso ao pesto, há que espreitar as receitas e sugestões de outros produtos, como a bruschetta, o risotto, os cogumelos, as trufas e o tomate, entre outros.

Sem dúvida uma oportunidade para o olfacto e paladar fazerem sonhar o Homem, sendo que de um pequeno cesto de compras pode resultar uma noite inesquecível à volta de uma mesa, e que melhor forma de começar uma noite. E como para uma boa refeição é exigido uma garrafa de um bom vinho deixo a sugestão de um espaço junto ao rio que mistura a beleza da localização com a qualidade dos produtos: Deli Deluxe, onde podem encontrar dos melhores e mais variados vinhos, clássicos e novas marcas e uma infinidade de países representados. Para os românticos um tinto francês, um adocicado italiano ou mesmo para aqueles com o coração junto à bandeira uma reserva lusitana.

Um abraço e bom natal

Oil&Vinegar Centro Comercial Colombo
Tel.: 217120067
e-mail: oil.vinegar@netcabo.pt

DeliDelux
Av. Infante D. Henrique, Armazém B, Loja 8
Tel.: 218862070

CCB: «Dias da Música» terá programação muito melhor - Ministra

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, desdramatizou esta segunda-feira a suspensão da Festa da Música em 2007 pelo Centro Cultural de Belém (CCB), considerando que o evento que a substituirá terá uma «melhor programação».
«A programação que nós temos para o próximo ano é muitíssimo melhor do que aquela que tivemos para 2006», afirmou a ministra, em declarações aos jornalistas na vila alentejana de Cuba (Beja).
As declarações de Isabel Pires de Lima surgem depois de o CCB ter decidiu suspender a Festa da Música em 2007 por falta de verbas, substituindo-a por outra iniciativa menos dispendiosa, segundo indicou hoje o director do CCB, António Mega Ferreira, à TSF.
«Tomámos a decisão de suspender a edição de 2007 da Festa da Música, embora seja substituída por outro evento musical, entre 20 e 22 de Abril, que será proposto pelo CCB e com um orçamento muitíssimo inferior», declarou o responsável à rádio.
Mega Ferreira explicou que a decisão da administração do CCB foi motivada pela falta de dinheiro para uma iniciativa daquela envergadura, acrescentando que o cenário para a continuação da mesma nos próximos anos «não é dos mais favoráveis».
Sobre o evento que substituirá em 2007 a Festa da Música, Mega Ferreira disse que se chamará «Dias da Música» e será dedicado ao piano, não devendo o seu orçamento ultrapassar um terço do da anterior iniciativa.
A ministra da Cultura explicou que se trata de um novo projecto com «um outro perfil e com outra dimensão» e mostrou-se convicta de que haverá uma «programação muitíssimo melhor» no próximo ano, comparativamente com a de 2006 e 2005.
Isabel Pires de Lima invocou também as questões orçamentais, afirmando que a Festa da Música «esgotava em três dias uma percentagem absolutamente substancial do orçamento do CCB para a programação».
Segundo ainda a mesma ministra o Evento que passou de A Festa da Música para Dias da Música, passará em 2008 para o Dia da Música e em 2009 para a Tarde da Música. A forma encontrada para em 2007 o evento ser muitíssimo melhor é simples, irão tocar todas as peças que se tocariam num mês mas em versão medley numa semana, o que além de inovador é sem dúvida muito menos chato para todos pseudo intelectuais que apenas iam ver para ser vistos. Infelizmente para os outros que realmente apreciam a cultura e a boa música resta-nos Espanha e Londres e alguns concertos em Viena ou Milão. A única frase em que a ministra acertou em toda a entrevista foi quando afirmou que a Festa da Música “esgotava em três dias”, aliás se excluirmos a temporada da Gulbenkiam devia ser mesmo o evento mais aguardado do ano, o que para este governo se mostrou completamente irrelevante.
Uma palavra final para o facto de este corte na cultura ser feito por um governo de esquerda. Isto deixa-me estupefacto até porque no passado fim de semana, estava eu numa tertúlia nocturna no Bairro Alto, quando me atiraram com a seguinte frase “os intelectuais, artísticas e pensadores são todos de esquerda”, o que além de ser um elitismo, adjectivo que costuma ser conotado com a direita, é como se pode observar coerente com a arte deste nosso ministério.
Deixo uma proposta no ar. Se o problema é orçamento então porque não fazermos no ministério o que se fez no CCB e a ministra em vez de lá estar doze meses passaria a estar apenas 6. A programação cultural não era muito afectada e sempre se poupava uns trocos.
Um bem haja a quem ama verdadeiramente a cultura

Ministra gostaria que Cristóvão Colombo fosse de Cuba

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, reconheceu na segunda-feira que gostaria imenso, caso seja demonstrado, que o descobridor das Américas fosse natural da vila alentejana de Cuba.
É ao cubense Cristóvão Colon, pseudónimo do alentejano Salvador Fernandes Zarco, filho ilegítimo do Duque de Beja com Isabel Gonçalves Zarco, que as teses portuguesas reivindicam a descoberta das Américas, e não ao genovês Cristóvão Colombo.
Interrogada sobre a opinião do presidente da Câmara de Cuba, Francisco Orelha, e das teses portugueses que atribuem ao cubense Cristóvão Colon a autoria do feito histórico, Isabel Pires de Lima escusou-se a tomar posição, deixando «esse trabalho aos cientistas».
«Aí penso que não é Cuba quem mais ordena e muito menos o Ministério da Cultura», declarou.
Ao lado do autarca de Cuba, a ministra acabou depois por manifestar os seus desejos: «Gostaria imenso se se vier a demonstrar que, de facto, o nosso homem é de cá», disse.
Numa homenagem ao Descobridor das Américas, realizada a 28 de Outubro na vila de Cuba, os promotores defenderam que os manuais escolares devem ser alterados, passando evocar o nome do alentejano Cristóvão Colon, em vez do genovês Cristóvão Colombo.
A homenagem consistiu na inauguração de um monumento ao alentejano Cristóvão Colon, a quem as teses de historiadores e investigadores portugueses atribuem o feito histórico de Descobrir as Américas, ao serviço dos reis de Espanha.
Os manuais escolares são unânimes em evocar a figura de Cristóvão Colombo, que nasceu em Génova em 1451 e morreu em Valladolid (1506), repousando as ossadas na catedral de Sevilha (Espanha).
O monumento foi inaugurado no principal largo da terra, que também passou a ostentar o nome de Cristóvão Colon.
Em resposta o governo italiano deixou já escapar que afinal quem descobriu o caminho marítimo para a Índia foi um natural da bota da Europa de nome Vasco Di Gama derrotando assim a tese portuguesa. Além deste confronto de navegadores os dois ministros da cultura estão já a elaborar listas com os melhores futebolistas, fadistas e os mais estúpidos de cada nação onde a nossa ministra é figura de destaque na categoria “A tese mais patética da primeira década do primeiro ano”. No entanto a ministra já reagiu e afirmou que tenciona ainda revolucionar mais a discussão quando provar que afinal Leonardo Da Vinci, além de ser português era socialista. Esta última tese aliás, e segundo a ministra, está comprovada pelos seus descendentes os Da Vinci, famoso grupo dos anos 80. Segundo a cantora do grupo o nome vem de um antepassado de um dos carregadores das colunas que dá pelo nome de Luís que começa pela mesma letra de Leonardo. José Sócrates já reagiu a tudo isto dizendo “Ora aí está uma boa história da senhora ministra para distrair o povo do facto de não haver Festa da Música no CCB em 2007”

E assim vai o nosso país….

Saturday, November 18, 2006

Um café com personalidade

Trago-vos hoje mais um local para relaxar e passar um bom momento. Desta vez não é um restaurante ou um hotel mas um café que abriu este ano no Chiado. Já todos sabem a minha paixão por aquela zona, com as suas esplanadas, hotéis, restaurantes, recantos e lojas, e por isso sou suspeito, mas a descoberta que fiz esta semana embora até possa ser vista como banal tem um toque de algo que não se explica. Imaginem um espaço onde o ambiente é quente, tudo nos envolve e os sofás, confortáveis em pele, nos recebem de braços abertos. Um ambiente perfeito para dois mas que se enquadra num natural grupo de amigos. O tema versa em torno do café e o castanho escorre por entre toda a atmosfera. O design moderno e atraente completam o espaço que não sendo muito grande ilude com a divisão de espaços e ambientes a que foi sujeito. As casas de banho são o local mais moderno, com requintes pequenos mas de uma importância extrema. O passado é relembrado em fotos e símbolos que nos fazem respirar uma história envolta em mistério e acção. O lema anuncia “Noites de Paixão, deixe-se seduzir” e quase que poderíamos seguir este conselhos se seguíssemos o cheiro dos bagos de café que teimam em sair dos sacos cuidadosamente guardados.

Falando do que se ingere, o café é realmente muito bom, cremoso bem ao estilo italiano mas forte como o bom café da América do Sul. O travo é aromático e não há um único toque de queimado na sua essência. Diria que roça a perfeição numa colheita bem feita e cuidadosamente servida. Recomendo ainda o Bailey’s Coffee uma combinação de sabores explosiva que nos enche o corpo e nos envolve numa áurea de erotismo e prazer.

No final da noite recorda-se o espaço, o ambiente, os bons momentos passados e partilhados, um café absolutamente delicioso e uma ementa diversificada e bastante apelativa.

Black Coffee
Rua Ivens, 45
Horário 09h00 – 02h00
Tel./Fax. 21 347 40 77

Thursday, November 16, 2006

Um dia de chuva

Da minha janela não vejo a rua, não vejo nada mais que paredes verdes, plantas verdes e armários em tons de verde, salvam-se as molduras dos quadros que são em castanho, de uma madeira pobre o que aliás condiz com as fraquíssimas imitações que limitam. O tampo da minha secretária é verde e as cadeiras, obviamente, são verdes. Até a caneta com que assino os documentos é verde. No meio de tanto verde, e não sendo eu vegetariano, não que tenha alguma coisa contra essa raça de gente mas nada me convence a abdicar de um fantástico naco na pedra ou mesmo magret enrolado em molho semi natado. Além disso estas fantásticas criaturas têm a mania de acumular o seu repúdio por tudo o que não seja verde com a luta incessante e massacrante pelo direito dos animais. Que não haja confusões, tenho alguma simpatia por animais, em especial por cavalos, mas traço limites. Como é que essas mentes iluminadas propõem que se faça farinheira ou morcela, esses dois tesouros da gastronomia portuguesa, se não se sangrar o porco? Ou o famoso arroz de pato servido em pote de barro, como é que se mata o pato? Com uma intravenosa? Mas há coisas que me deixam ainda mais com os cabelos em pé. Já alguém viu um desses seres a beijar na boca os seus animais? Será que eles sabem que os gatos e os cães se lavam usando aquela língua? E quando digo que se lavam é em todo o lado. Confesso que isso me tira do sério. Essas pessoas beijam os seus “amantes” de quatro patas em tudo o que é sitio. Querem saber o que ainda é pior que isto tudo, é tudo isto mas feito por um homem. Vocês já viram um homem com um gatinho ao colo a dar-lhe beijinhos na cabeça? Haverá coisa mais abichanada? Caríssimos, um homem a viver sozinho com um bichano e a dar-lhe festinhas, beijinhos e a pôr-lhe o leite na serradura é gay, é tão gay que provavelmente até a m**** do gato usa calças de cabedal.

Bom, mas voltando à janela, realmente não a vejo mas hoje até agradeço por isso. O dia está triste, de um cinzento inarrável. Não é um cinzento qualquer, é daqueles enevoado com um ar pesado, de quem não tem prazer em ver o sol e carrega nos transeuntes o peso do seu desassossego. No meio de tanta escuridão, faço um esforço e observo quem passa. A paisagem é exuberante. A primeira personagem que se cruza com o meu olhar é uma senhora. De média estatura, exibe uns cabelos loiros encharcados em água oxigenada e com algo estranho escuro que com o tempo consegui perceber serem as raízes. Tento-me concentrar no que aquela mulher possa estar a pensar no meio daquela chuva e abstrair-me ao mesmo tempo da sua patética figura. Pela forma como segura no cigarro e pela escolha ridícula de vestuário, rapidamente concluo que não pode estar a pensar em muito e que o vazio do seu olhar é apenas um reflexo do vazio que enche aquela cabeça. Sigo o olhar e deparo-me alguns metros mais à frente com um casal. De mão dada e olhar cruzado, mostra uma cumplicidade que me seduz e que me faz recordar todas aquelas coisas bonitas em que tento acreditar. Naquele momento, e aí sim, a aparência dos dois era irrelevante, embora ele tivesse sapatos de pala castanhos, no fundo de um fato preto e com a ponte a ser feita por meias azuis. Se estivesse um pouco de sol no meio daquela chuva quase que poderíamos ter um homem arco-íris. Mas enfim, deixemo-nos de análises superficiais e vamos ao que interessa. Eles realmente pareciam apaixonados. Depois olhei melhor e reparei que ela tinha aliança e ele não. Não quer dizer nada mas fez-me levantar o sobrolho. Com um olhar mais cuidado reparei que ela não me era estranha e ao fim de algum tempo, não muito, visto o meu cabelo loiro não me atrapalhar o raciocínio, lembrei-me de onde a conhecia. Era a mulher do dono do restaurante onde de vez enquanto almoço. Mais uma desilusão mas enfim a vida é assim.

Perante tal cenário recolho para dentro do meu espaço. Prefiro nem sequer ver mais nada e deixar o cinzento do dia brilhar sobre os tristes que à chuva vagueam.

Wednesday, November 15, 2006

Experiência ao almoço

Acabei de ter uma experiência traumatizante. Estava eu descontraído a almoçar, saboreando um magnífico queijo amanteigado, quando um ex-colega surge-me no raio de visão. Sendo ele mais alto que eu e encorpado é difícil de não o ver pelo que a imagem ocupou todo o meu olhar. Ele já não é uma pessoa bonita mas há coisas que nós podemos mudar. Obviamente ele não pode mudar o corpo que tem, a tromba que Deus lhe deu, mas podia ter algum cuidado com a aparência, quem sabe até tomar um banho de manhã antes de vir trabalhar. Mas enfim também não quero ir longe demais. O motivo da minha quase queda da cadeira, prendeu-se no entanto com a escolha de vestuário que aquela mente brilhante fez hoje ao se vestir. Ele nunca foi conhecido pela roupa e tem mesmo a mania de usar as calças a meio das meias, chego mesmo a pensar que comprou os seus fatos aos 16 anos e depois disso ainda cresceu um pouco, mas enfim admitamos que é um gosto pessoal. Até aqui tudo bem, tínhamos de gramar com a boa da soquete e com os pelos da barriga das pernas mas enfim, para o que eu não estava preparado era para o cenário de hoje e olhem que eu já vi fatos cor de vinho e com colete. O jovem apareceu com um fato de bombazina verde-garrafa!!! Bem sei que há aquelas senhoras que de vez enquanto se enganam e vestem cortinados mas vestir alcatifas é um pouco demais. Já me custa a crer como é que alguém na fábrica achou que seria giro transformar a alcatifa num fato. É fascinante o pensamento do lojista que compra esta obra de arte para a por à venda na sua montra, mas é sem duvida espantoso como existe realmente alguém que compra este pedaço de m***** artístico. Com botões verdes e uma camisa de tom bege, repito BEGE, o prato era completado através de uma gravata de cornucópias, bem ao estilo da classe média baixa da década de 80. Por momentos senti-me na Maconde e a pulsação baixou-me até valores mínimos. Virei a cabeça para o lado e contemplei o frango que morto na minha travessa agradecia por já não ter olhos. Estava eu a recuperar deste trauma quase inultrapassável quando o quadro se completou. O empregado tentando ser simpático resolveu servir-me a Coca-Cola e passou com o braço a cm da minha cara e amigos das duas uma ou estava algo morto naquele sovaco ou falta água lá em casa há algumas semanas. No meio disto tudo safou-se o café bebido à pressa.

Portugal é realmente um país lindo mas o que faz disto um cantinho especial é algo a que nos habituamos a chamar de: portugueses ;)

Monday, November 13, 2006

Mais um restaurante

É sempre um prazer conhecer novos locais onde o nosso paladar se possa perder por entre sonhos de sabores e cheiros. Foi com este sentimento que com alguma surpresa à mistura me foi apresentado o Salt & Pepper. Numa rua discreta do Bairro de Campo de Ourique surge-nos uma montra bem ao estilo do centro da Europa com uma porta pequena que entreaberta permite espreitar para a única sala do espaço. Ao entrar deparamos com um ambiente familiar, de quem se conhece há anos e aproveita aquela noite da semana para partilhar um jantar ao som das conversas do dia a dia. Ao fundo um comprido balcão separa a zona da degustação da zona de serviço e por detrás um homem de aparência simpática e de porte carregado lança um sorriso a quem entra. Tudo é simples mas nota-se no ar um toque de requinte dado por algo que a vista ainda não conseguiu alcançar. O couvert é servido com uma pequena surpresa, um paté caseiro que deixa a língua a salivar e as papilas gustativas aos pulos pela emoção que sente ao toque daquela fragrância. Enquanto aguardo pelo prato principal observo que quem chega conhece quem já cá está. É um estilo uper class com um toque de Ralph Laurent e um estilo conservador ladeado por um ar descontraído e solto no toque de cada conversa. As mesas vão-se compondo e quando o empregado, sempre atento e solícito, se aproxima com a minha escolha, a sala já está cheia. À primeira garfada gemo de prazer. Decidi por um magret com molho de laranja e acompanhado por umas batatas envoltas em molho benchamel. O conjunto é simplesmente delicioso. A carne macia desfaz-se na boca soltando pequenas gotas de sumo de laranja que me arrepia ao descer pela garganta. A batatas praticamente se derretem na boca e nos cantos do prato, junto a um requintado ladear de canela pousam pequenos pedaços de laranja, cuidadosamente cortados e prontos a consumir. Um prato destes requer um vinho quente e robusto, com personalidade e atento aos pormenores. A minha costela alentejana puxa-me o pensamento para uma reserva de Reguengos mas a escolha é variada e ao gosto de cada um. Após largos minutos de deleite passo para a sobremesa e reservo-me com um abacaxi e uma tarte de limão. Se o fruto estava no seu habitual já a tarte mais uma vez me tirou os pés do chão. Que delicia e que sabor, quase que dá vontade de perder a compostura e pedir uma segunda fatia, mas o bom senso fala mais alto e passo ao café. O quente daquele creme preto e forte compõe a refeição e faz-me sonhar com um charuto. A conta? Perfeitamente acessível e surpreendente para a qualidade da comida. Despeço-me do local com um sorriso e com vontade de regressar, há muitos pratos para experimentar e aquela tarte tem uma segunda ronda marcada comigo. Espero que possam passar por lá.

Aquele abraço amigo

Bruno

Restaurante: Salt & Pepper
Morada: Rua Correia Teles, 23 A 1350-092
Tel. 21 381 34 44

Wednesday, November 01, 2006

Mais uma pancada

São nove e pouco da noite. Estou sentado à minha secretaria num escritório onde apenas a senhora da limpeza faz um pouco de barulho ao fundo. As luzes apagadas, com a excepção da que morre por cima de mim, dão ao quadro um ar fúnebre. Já não escrevia há algum tempo, já há algum tempo que não sentia peso a mais que necessitasse de ser posto fora, expurgado do meu corpo e lançado no frio do papel. Costumo dizer que Dezembro é para mim o pior mês do ano, são os meus anos onde nunca estou com quem quero e quase nunca me sinto verdadeiramente feliz, é o natal onde fico sozinho ao longe a ver os outros e é a passagem de ano onde acompanho os meus amigos em casal a comemorarem as suas paixões e a lançarem votos ao novo ano. Sempre odiei esta quadra. Confesso que houve anos em que a coisa correu bem, mas de uma forma geral Dezembro é algo que gosto de apagar do mapa. Este ano o martírio chegou um mês mais cedo. Um sonho forte desmoronou e as forças em lutar por uma esperança começam a escassear. Estou cada vez mais cansado, tenho de lutar em várias frentes, a toda a hora e contra todos. Não tenho descanso e nunca, nunca posso baixar a guarda. Alguém me dizia que nunca sabe o que fazer porque ora estou em alta ora estou em baixa, deixo-lhe uma correcção tenho andado sempre em baixa, tenho alguns momentos pontuais de felicidade e finjo, finjo muito (daí às vezes o exagero) porque acho que quem se dedica e partilha o seu tempo comigo não merece outra coisa que não um sorriso, mesmo que às vezes dado com lágrimas por dentro. Acusaram-me também de não chorar, para esse alguém apenas uma lembrança, se todas as lágrimas que chorei por ela se juntassem, havia um rio à porta de sua casa. Não quero chorar mais, às vezes juro que não o volto a fazer mas a vida volta e dá-me pancadas fortes, tão fortes que ás vezes julgo que não vou aguentar. A solução? A solução é simples, por a mão no chão, fazer força para cima, esticar as pernas até ficar de pé, levantar a cabeça e de olhos ao alto voltar a encarar tudo com um sorriso nos lábios e o peito aberto, porque antes morrer que desistir e lutar será até ao fim.