Monday, May 08, 2006

Hoje chorei a tua morte


Sozinho numa sala escura abro os olhos para ver a luz das lâmpadas que apagadas iluminam a minha alma. Saboreio o sabor amargo e ácido da solidão. A minha língua, outrora molhada de beijos e carícias, é hoje um pedaço de pó frio e insípido que sufoca a minha garganta já cansada de respirar. As lágrimas correm-me agora pela face marcando-me a pele de forma dura e cruel enquanto os olhos me ardem tanto que me doem só de mexer levemente as palperas. Esfrego a cara e com as mãos molhadas de dor aconchego o peito massacrado e desgastado de tanto sofrer. De olhos fechados sinto o sangue escorrer pelas minhas veias queimando-me a carne e delicerando-me o corpo de angustia. Acendo a luz e de joelhos olho-me ao espelho. Estou desfeito, sou um farrapo do que já fui, em tempos idos, sem retorno e sem história. Pergunto-me porque é que a vida me odeia, porque é me odiou tanto ao ponto de me matar toda a felicidade que sentia. Hoje eu sei que te amei no meio de um vendaval de emoções e num turbilhão de coisas que eu não controlei e que me levou à ruína. Aliás foi mais, foi muito mais, foram desejos e beijos que eu jamais provei igual, debaixo de estrelas cúmplices e apaixonadas. Sinto saudades tuas, dos teus beijos, dos teus abraços e daquilo que só tu, apenas com um olhar, me conseguias dar. Manténs-te por perto quase ao alcance de um toque mas depois foges, corres para longe de mim como o diabo foge da cruz e deixas-me assim num quarto vazio, cheio de recordações e vazio de ti. Quero-me levantar e faltam-me as forças, estou demasiado cansado para lutar e deixo-me cair. O corpo dói-me, uma dor imensa que corta e me deixa em sofrimento constante e sem vontade de sorrir. Deito-me agora num chão frio, desnudo de calor e o peso dos olhos abate-se como toneladas em mim. Procuro a tua imagem no meu intimo e com o teu sorriso nos meus beijos deixo-me adormecer. Uma dor aguda em cheio no coração faz-me ver que já não estás ali e choro, choro muito. Caso não percebas, caso não consigas ver isto sou eu de joelhos com o coração em sangue e estes jogos estão a destruir-me, matando-me diariamente e depois numa tortura maquiavélica ressuscitando apenas para me poder fazer sofrer outra vez. O meu cérebro já desgastado vira o meu olhar para uma foto nossa e num movimento irreflectido viro-a para baixo numa tentativa que me leve ao descanso. Cheio de dor me aconchego, no meu peito dorme agora um grito mudo de tanto te querer. Dsespero, sinto um desespero que dentro de mim me tortura e digo para mim próprio num murmúrio tão baixo que nem a minha alma o ouve, digo que morreste e choro a tua morte. A morte é eterna tal como o verdadeiro amor e não encontro melhor homenagem que aceitar a tua partida amando-te numa lágrima que rezo eterna. "Se eu soubesse que morrendo tu me haverias de chorar, por uma lágrima, por uma lágrima tua, que alegria me deixaria matar"

4 Comments:

Blogger Maria said...

Muito intenso,sofrido.Li quase sem respirar.Depois da chuva o céu fica mais limpo e claro...

01:27  
Anonymous Anonymous said...

Mas o que tem a morte de tão inspirador? A eternidade? Sobre isso já dizia o poeta: "que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure"
Reinventa-te...

19:53  
Blogger Pitucha said...

Como aceitar a morte daqueles de quem gostamos?
Duro, duro.
Beijos

22:21  
Anonymous Anonymous said...

Senti seu sofrimento na carne, bebi cada gota de cada palavra, senti o sabor amargo da morte na garganta. É isso que se chama morte. Um sofrimento visceral. E ao mesmo tempo tão inspirador que chegar a ser lindo de doer.

04:56  

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