O Mundo na mão

Chorei de raiva e paixão, fugi com ódio e ilusões quebradas e não quis ver quem me quis agarrar. Agredi a vida e esta fechou-se para mim, ninguém dá o primeiro passo e o jogo do puxa e empurra faz com que os punhos continuem cerrados. Queria muito poder abrir as mãos mas tenho medo, mas medo de que? Da vida? Dos punhos dos outros? Nada magoa mais que a força das nossas mãos quando fechadas, nada magoa mais que não sentir o Sol na palma da mão, não sentir uma lágrima ou simplesmente uma folha que caí sobre a nossa pele. O sangue pulsa em toda a sua força junto ao pulso como que forçando os dedos a esticar-se mas o cerebro não deixa, não quer, morre de medo de perder o falso equilibrio em que repousa, morto, num coma profundo e incosciente como que ignorando o mundo e todos os que o rodeiam.
Queria ter forças para abrir as mãos mas tenho cordas que me amarram e não sou capaz de desatar o nó sozinho. A vida não deve ser vivida a um mas não se deve evitar faze-lo só para não viver assim. Cabeça levantada, orgulho em nós e naqueles que amamos e dizer que os amamos sem vergonha ou medos e gritar alto para a vida, não com arrogância mas com dignidade, não exigindo vassalagem mas sim respeito. Quero muito abrir as mãos e já estão semi abertas e em cada olhar do Sol, em cada flor de Primavera, em cada lufada de ar de Verão que respiro vou abrir mais e mais. Nos amigos vou ganhar forças, na família vou ganhar sorrisos, no amor vou ganhar brilho nos olhos, na carreira vou ganhar um peito elevado e em tudo isso vou ganhar uma vida. E tudo isto está ao alcance e basta só abrir a mão e segurar como quem segura uma criança o mundo, o meu mundo, o mundo dos outros, o mundo de todos.