Friday, March 24, 2006

Apetece-me dançar


Hoje acordei a apetecer-me dançar. A chuva escorria na janela batendo de leve no vidro num ritmo calmo e madrugador. Os olhos, ainda semi-cerrados, brincavam com a luz que agora nascia no quarto, provocando em mim uma fuga para debaixo dos lençois. Estava calor dentro da cama e o frio que lá fora fazia pressionava-me a ficar. Por fim, um som agudo e incomodo estalou nos meus ouvidos. A frieza horária do despertador não perdoa e como que tentando por alguma responsabilidade naquela pintura fez-se ouvir em toda a sua plenitude.
Levantei-me e apeteceu-me dançar. Fugi rápido debaixo de outra água, uma água quente, boa que reconforta o espirito e prepara o corpo para o dia que começa lá fora. A espuma invade-me a pele amaciando o meu karma e dando algo de fresco ao ambiente. Termino enrolado na turca que é toalha e volto a fugir depressa e sem olhar para trás de volta ao meu quarto.
Apetece-me dançar mas a pressão da escolha é agora mais importante. Abro o guarda fatos e olho, imóvel e de forma fixa, olho para todas as opções sem conseguir mexer um musculo. Tanta escolha, tantas formas e nenhuma me faz sentir a paixão. Agarrei-me a uma camisa com ternura num rasgo de ilusão e aconcheguei-a a mim aquecendo-me e saindo dali por segundos. O resto vai por arrasto e nem me volto a preocupar como se uma camisa automatizasse tudo o resto. Deixo a gravata para último, aliás decido que só a ponho no carro. Fujo de nós desde sempre e hoje apetece-me tanto dançar que quero fujir mais uma vez.
Como qualquer coisa já a correr e empurro tudo com um copo de sumo. O estomago não é principe de manhã e nem a fome me consegue fazer as coisas de forma diferente, lentas, apaixonadas, minhas. De casaco já vestido sigo para o carro e no meio de uma chuva meiga faço-me ao caminho. A música dá-me o seu som com generosidade e eu retribuo aumentando o volume. Apetece-me tanto dançar.
Dançar é algo mágico, único, especial. É partilhar algo de intimo. Dançar a dois é viver a vida numa musica. Naquele momento tudo à volta desaparece enquanto se partilha uma gota de suor que escorre enquanto os cabelos se tocam numa volta mais apertada. Os peitos tocam-se e sentem-se os corações um contra o outro. Chega-se a corar num suave toque de mãos. As pernas entrelaçam-se num bailado moderno, contornado por paixões ardentes e fortes e as ancas, ah as ancas, essas deixam-se morrer nas mãos do companheiro.
Com o som forte nos ouvidos fujo do carro e navego numa dança a dois que naquele momento até consigo cheirar. Lá fora tudo pára, nada interessa, tudo fica a preto e branco porque toda a cor fugiu para aquela musica, para aquele momento único, para aquela dança que partilho com quem teve a coragem de me dar a mão.
Ah, hoje acordei com tanta vontade de dançar...

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