Thursday, April 13, 2006

A Pérola


Corri rua abaixo, despido de emoções, vazio de sonhos e ilusões e cheio de nadas e de talvez. Virei uma esquina apertada e esbarrei de frente com uma ilha que sozinha flutuava no meio de todo aquele mar que por entre os prédios corre num frenesim de pernas e braços sem fim. Era linda aquela ilha, tranquila, de praias escondidas e águas calmas. De sorriso aberto mostrou-me um caminho dali para fora, para longe daquela confusão de ódios e paixões, de intrigas e confusões que minam toda a sociedade sem deixar sobreviventes. Fugimos para um café, uma esplanada com a alma e cor, cheia de sol e calor onde deixamos cair os nossos corpos exaustos. Bebemos uma bebida fresca, trocamos palavras sobre a mesa e rimos à gargalhada. Tudo nela me vazia sentir bem, sem pressão, sem cenários. Não havia filmes nem actores, nem cenas, nem takes, nem humores. Não tínhamos de fingir, não havia nada a sentir a não ser a companhia. Partilhamos tudo um com o outro, amores, tristezas e dores, sem culpa nem remorsos. Era sem dúvida uma brisa fresca, uma pérola numa ostra fina, coberta de espuma do mar.

Navegamos por entre o mar, naufragamos no meu lar e jantamos sem pecado. Os seus olhos brilhavam de ansiedade, o seu peito pulava de vaidade e as mãos não paravam quietas. A sala era pequena demais, éramos dois mas parecíamos mais, num entrelaçar de pernas e braços. A minha praia era agora banhada, a foto da parede virou-se envergonhada e a lareira aqueceu o ambiente, ela era louca, era ardente, era um fio de água caliente, era a cor mais forte do arco-íris. Peguei-lhe na mão a medo, carreguei-a ao colo e a meio beijei-a com intenção. Parámos no meio do quarto, de roupa no chão rasgada, de colchas desordenadas, encostei-a a uma parede, beija-a de trás e de frente, numa luxúria de beijos. Respondeu-me com abraços, com carícias, com amassos, com beijos loucos e prolongados, com arrepios de prazer e doçura, com rasgos de unhas pelas costas. Subiu em mim com ternura, mordeu-me uma orelha, que loucura, e deixou-se perder no meu pescoço. Abriu o flanco já na cama, soltou o cabelo, soltou o peito e vincou os braços à minha volta. Torcemos pernas e posições, saltamos almofadas e almofadões, fizemos orgias só a dois. Beijamo-nos durante horas, fizemos amor, fizemos sexo, perdemo-nos sem regras pela casa e adormecemos agarrados, abraçados com muita força, num agarrar herculiano de paixão. Fechamos os olhos e sonhamos, sonhamos com mundos e cidades, com vidas e saudades, com viagens e ilusões. Agarrei-lhe a mão com força, desejei não acordar e deixei-me cair derrotado.

2 Comments:

Blogger Catarina said...

Compila caríssimo, compila...

09:26  
Anonymous Anonymous said...

ai ai que saudades......

00:17  

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