Saturday, April 29, 2006

Um dia de praia


Acordei sozinho numa cama enorme e ainda quente do teu corpo. O teu cheiro na almofada fez-me sorrir e fechei os olhos para te poder ver a dançar nua sobre o nosso amor. Abraço os lençóis que foram teus sentindo o toque suave da tua pele contra a minha. Tenho de me levantar mas o meu corpo não reage, lânguido na cama deixo-me ficar mais uns minutos sentindo a tua presença e os teus beijos. Atiro-me para a banheira e para um duche que por mais frio que fosse não conseguia apagar a forma ardente como te despediste de mim naquela manhã. A água escorre-me pelo peito lembrando-me da tua língua quente e húmida a percorrer-me o corpo sequioso de ti e das tuas mãos.

Visto qualquer coisa e parto de encontro ao sol. Quero encontrar-te e sei exactamente onde te escondes. De carro aberto, de cabelo ao vento, vou em velocidade acelerada rumo ao mar lusitano que beija as praias como os meus lábios beijam o teu pescoço terno e desenhado com o rigor de um artista. O rio invade-me os olhos com o seu azul, fresco e lindo, ofusca a cidade que nas minhas costas me cumprimenta com um sorriso de cumplicidade. A música cantada pelo rádio relembra-me momentos já idos mas tão presentes na minha mente, lembro-me de as dançar contigo na intimidade de uma dança a dois longe de pistas cheias e de olhares de ciúme que nos fulminavam sempre que orgulhosamente saiamos.

O calor aperta e a brisa que nasce do mar sopra agora com um sabor a fruta junto ao meu tronco. Avanço para a praia e dispo as poucas roupas que me escaldavam a pele. Descalço-me e toco a areia que quente me recebe. Os pequenos grãos que entre os meus dedos fogem arrepiam-me e vejo-te naquele sol, naquele mar e naquela areia. Deito-me como se me tivesse a deitar contigo e beijo um vento vindo de ti. A minha pele arrepiada procura-te no céu e de olhos fechados busco-te na onda que atrevida morre nos meus pés. O calor sobe-me pelas veias e quase que faz explodir o meu peito. A pele queima-me e o som das tuas palavras excitam os meus ouvidos. Peço a medo uma bebida no bar de madeira que de forma magistosa rege o areal. Fresca e cheia de gelo percorre-me a garganta, fugindo desavergonhada pelo peito e escorrendo junto ao umbigo que já grita de paixão. Na trinca da laranja travo o teu sabor e no escorrer do seu sumo provo o teu corpo. Quero sentir o teu suor no meu corpo e mergulho num mar calmo e frio em busca de ti e dos momentos que só nós dois conhecemos. Fios de algas entrelaçam-se nas minhas pernas como mãos acariciando-me e provocando sensações únicas arrancadas do mais profundo do meu ser.

Com arrepios de frio a percorrerem-me a espinha regresso a casa, com os lábios secos e rasgados pela saudade dos teus beijos. A viagem dura uma eternidade e a tua face permanece sorrindo no vidro do carro, quase me fazendo despistar em busca do teu olhar. Milhares de emoções varrem o meu corpo como um tsunami de paixão e erotismo que só se satisfaz na tua praia e que na tua areia quer morrer. Dou por mim à porta de um apartamento que é teu, um espaço proibido. Invadi-lo é loucura mas a tentação impede o meu lado racional de intervir. Subo as escadas a medo, tremendo de emoção e já junto à porta escorro a mão pela parede até encontrar o botão da campainha. Após dois toques tímidos o silêncio torturou-me durante uns segundos. Finalmente, numa imagem de vénus e luxuria, abriste a porta trazendo sobre ti apenas uma camisa azul bebé, semi apertada e transpirando sensualidade. Abriste o mapa da tua sala e sorriste para mim do outro lado do sofá. De copo na mão brincavas com as minhas pernas lançando os teus pés sobre mim em investidas de espadachim que me faziam trocar as palavras e morder os lábios. A música já nem me lembro mas sei que tocava conivente no leitor. Num gesto suave lançaste os teus braços sobre mim e torturaste o meu lóbulo direito enquanto com as mãos abrias a minha camisa, colando o teu peito ao meu. A suavidade do toque levava-me ao Olimpo em viagens intensas e doces. Milhares de beijos foram trocados em longos abraços e carícias intimas e tão únicas como os teu olhar. Levaste-me pela mão para o quarto e despiste-me de preconceitos com deleite e paixão. Numa cama que se fez nossa fomos uno. De corpos colados e cabelos entrelaçados desafiamos o mundo e tudo à nossa volta e parámos o tempo em todo o universo. No final fechaste-te nos meus braços e de sorriso nos lábios cerraste os olhos adormecendo gentilmente em mim. Lembro-me de ter ainda olhado de lado para o piano que do fundo do quarto nos observava e na minha cabeça ter escutado a tua música antes de finalmente deixar de resistir e adormecer. O meu último pensamento foi para os teus beijos que ainda hoje recordo meus e sinto nos lábios que carnudos esperam por ti a cada onda, a cada brisa e em cada pedaço de areia, naquela praia que é só nossa.

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