Tuesday, April 18, 2006

Noite Ardente


Eram já onze da noite, olhei de lado para o bar num laivo de voyer atrevido de quem com um sorriso confiante observa todas as mesas. O meu olhar parou a meio. Sentada num banco alto, de costas direitas, ombros perfeitos e cabelo solto, uma mulher prendeu-me a atenção. Estava de costas desnudadas num top preto de cortar a respiração, a sua cintura fina e morena queimava a mais gelada das cervejas. Numas calças de ganga de cintura descaída reinavam duas pernas lindas, esculturais que terminavam de forma suave em pés perfeitos, adormecidos no verde azulado de dois sapatos femininos de corte perfeito e elitista. Atrevi-me a dirigir o meu corpo até aquele lugar de culto, de prazer e de inspiração. Sentei-me ao seu lado a medo, com aquele nervoso miudinho que faz tremer as pernas e acelerar o coração. Durante uns minutos que pareceram horas lutei com os meus lábios para dizer alguma coisa. Como é que alguém como eu poderia ficar com uma mulher daquelas? O frio percorreu-me dezenas de vezes a espinha e de repente, como se de uma força divina se trata-se, uma voz fez-me avançar num acto de loucura e coragem que eu nunca tinha experimentado antes. Peguei no meu copo meio cheio e dei um golo para amaciar a voz.
Nesse momento ela olhou para mim e sorriu. Como era possível? Foi nessa altura que lhe observei os olhos, eram lindos, de um tom invulgar e único que encadeava de beleza quem se atrevesse a olhar. A face era perfeita, parecia uma estátua romana, linda, algo como eu nunca tinha visto e de sorriso fácil saindo de uns lábios quentes e meio carnudos em tons de paixão ardente e desejo incontrolável. Aproximei-me e mal me sentei ao seu lado senti a sua mão na minha perna e uma voz de mel beijou-me os ouvidos com uma pequena frase que me deixou louco. “Já te tinha visto ao entrar, porque demoraste tanto tempo a vir até aqui?” disse ela. O meu coração quase parou, as palavras não queriam sair engasgadas num turbilhão de emoções e medos que atrofiavam agora a minha mente. Tentei soltar-me daquele chorrilho de fantasmas que me obstaculizava a voz e me enevoava o pensamento. Mais uma vez foi a sua voz calma que comandou o momento, pagou a sua bebida e com um piscar de olho convidou-me para sair dali para fora. Escusado será dizer que estava fora de mim, totalmente fora de mim e ela solta e descontraída, controlando a situação, como que sabendo com exactidão os passos obrigatórios para aquela dança.
Deixei-me ir à aventura pelas ruas cheias da cidade. Passeamos pelas luzes conversando e namorando a lua que lá do alto nos observava, cheia, num branco imaculado e brilhante. Saltamos ruas e pracetas, brincamos nas avenidas e divertimo-nos nas esplanadas. Dançamos junto ao rio e quando a música não ecoava no ar cantávamos canções da moda. O tempo voava e eu nem o sentia, era como se naquele momento o mundo tivesse deixado de existir, tudo à volta desaparecia e apenas os seus olhos me guiavam no meio de todos aqueles cruzamentos de pessoas. De repente, pegou-me na mão e aproximou os seus lábios do meu pescoço, e num tom confiante sussurrou ao meu ouvido aquele pedido que se viesse de Deus não seria mais divino: “leva-me até casa, quero partilhar o nascer do sol contigo.”. Desta vez não hesitei, segurei-lhe na mão e conduzia ao meu carro. A viagem foi rápida e intensa, não trocamos uma única palavra mas nem por isso o diálogo foi menos fogoso. Sorrimos e brincamos com o olhar durante todo o caminho e tentamo-nos tanto que as mãos não conseguiram ficar quietas saltando de um banco para o outro entre pernas, coxas e outras tentações.
Passados poucos minutos chegamos à porta de um prédio de cores suaves e linhas direitas. Entramos directamente para a garagem e subimos agarrados no elevador em abraços fortes e quentes, tão quentes que quase fizemos disparar o ar condicionado do aparelho. Na porta da sua casa segurou-me no braço e levou-me quase pairando até à sala. Era um espaço amplo e aberto, sem muitos moveis, em tons de preto e encarnado e com uma janela de parede que dominava toda a assoalhada. Pediu-me para preparar uma bebida enquanto ia até à cozinha. Preparei um gin, nada muito forte, e deixei-me relaxar numa cadeira suspensa que junto à janela contemplava o Tejo. Ela não demorou mais de dois minutos, vinha já sem casaco, de ombros descobertos e com uma taça de uvas pretas e brancas na mão direita. Sentou-se ao meu colo, de frente para mim, traçando as pernas nas minhas costas. Senti a respiração a parar e o corpo todo a tremer por dentro. Tirou uma uva de dentro da taça e espremeu-a de forma suave junto ao meu peito deixando o sumo escorrer um pouco sobre mim, então deixou-se descair e com a língua lambeu de forma sensual todo aquele sumo que já ardia sobre a minha pele. Subiu por mim a cima e deteve-se no meu pescoço. De mãos no meu cabelo dominou-me todo o tronco e fez-me fechar os olhos de prazer. Quase que me beijou e fugiu, não com medo, não com receio mas numa atitude de provocação que me queimava de desejo. Perdi os meus dedos pelos seus fios de cabelo ondulado, brincando como um miúdo por entre aqueles rios de prazer perdidos ao vento, que sobre o meu peito reinavam. Com um sorriso no olhar despiu-me a camisa e cravou as suas mãos no meu tronco passeando com as unhas finas pelas minhas costas enquanto me beijava os meus abdominais. Do nada, como num instinto repentino, subiu e a dois centímetros de mim pediu-me que a beijasse. Num segundo segurei-a firme junto a mim e de forma suave colei os meus lábios aos dela. A sala estremeceu nesse momento, as porcelanas bateram nas paredes e os quadros saíram do sítio. As nossas línguas perderam-se numa orgia de loucura que consumia tudo à sua volta e molhava-me o corpo de prazer.
Levantei-me da cadeira com ela ao meu colo e encostei-a ao vidro da janela. Soltou um uivo quando o gelado do vidro se colou às costas desnudadas, cravando as unhas nas minhas costas provocando em mim uma dor com sabor a quente. Mordi-lhe suavemente os lábios enquanto as suas pernas me apertavam cada vez mais e o seu peito, direito e firme, tocava no meu já desejoso de a sentir. De olhos uns nos outros tirei-lhe o top de forma decidida enquanto ela se torcia de deleite. Rocei o meu peito no dela e deixei-me descair até poder beijar-lhe os mamilos enquanto as minhas mãos se perdiam pela sua cintura morena e delgada. O seu tom de praia fazia contraste com a pouca luz que agora iluminava a sala. Atirou-me com força para o sofá de pano cru que envergonhado assistia a tudo. Já sem calças avançou para mim despindo-me a uma velocidade tão lenta que eu sentia as gotas de suor a cair-me da testa enquanto as minhas calças desciam pelas minhas pernas. Todo eu tremia e ela sorria só de olhar para mim. Segurou-me nas boxers com os dentes e sem piedade deixou-me nu e indefeso. Resisti, levantei-a de novo no ar e numa elevação de força sentei-a nos meus ombros. Completamente nus, entregavamo-nos agora um ao outro sem pudor. De pé, com ela sentada nos meus ombros, enquanto as suas mãos se equilibravam no candeeiro, beijei-a junto às virilhas de forma terna, suave e húmida, sentido o seu calor e o seu desejo, enquanto da sua boca brotavam gemidos de prazer. Apertava-me a cabeça com as coxas em movimentos contínuos e ritmados, apertando e soltando enquanto gritava em surdina. Antes de se deixar perder virou e assentou os joelhos nos meus ombros descendo com os lábios pelo meu peito até ao meu ventre. Com a sua boca húmida e língua quente saboreou-me enquanto eu transpirava de gozo. Ficamos assim até perder as forças, de pé, invertidos nos sentidos e unidos na loucura. Deitei-a no chão e mais uma vez os gemidos rebentaram dos seus lábios. Amei-a de forma lenta, quase provocatória, fazendo-a tremer debaixo dos meus braços. Ela pedia-me mais e o seu corpo insinuava movimentos mais rápidos que eu de forma firme impedia, pressionando a sua pélvis com o meu corpo já molhado.
Vinda do nada, a sua mão direita lançou-se sobre os meus cabelos puxando-os para trás. Fez-me sair e levou-me até à mesa onde atirou tudo para o chão e deitou-me de costas sobre a madeira preta e assustada. Sem hesitações sentou-se em cima de mim e ao seu ritmo em movimentos circulares usou-me sem contemplações. Prendeu-me as mãos com vigor e deixou cair o seu suor sobre os meus lábios enquanto me apertava o peito e dominava o corpo. Fui dela durante algum tempo, nem sei quanto. A minha cabeça disparava em todas as direcções, navegando por mares distantes e nunca vistos. Agora gritava eu. Ela tapava-me a boca envergonhada enquanto me arranhava as costas e mordia o pescoço e as orelhas. Estava louco, que corpo, que olhar, que noite. O Sol já nascia ao longe quando lhe peguei pelos braços e a fiz ajoelhar na cadeira de baloiço. Devagar, sem pressas, amei-a com o meu peito nas suas costas. Deixei descair as mãos para as suas ancas e apertei-as, que firmeza, que pele suave e fresca, cheia de força e vigor e que arredondada pelas formas despertava em mim pensamentos libidinosos e únicos. O ritmo aumentou, o tom dos seus gemidos era agora mais alto. De uma forma sensual atirou os seus longos e sedosos cabelos para trás batendo com as pontas na minha face e encharcando-me com o seu suor. Aumentei a velocidade e ela sentindo apertava-me cada vez mais coordenando agora os movimentos com vagidos sentidos e altos. Mais rápido, pedia ela, e eu já extenuado avancei naquela luxúria e dei tudo o que tinha no meu corpo para dar. Finalmente o êxtase simultâneo acompanhado por um bramido louco e incontrolado.
Derreados deixamo-nos cair sobre as cadeiras da varanda sentindo no corpo o calor do Sol que já alto sorria para nós. Caídos um sobre o outro, beijando o seu peito com a minha testa fechamos os olhos sem dizer uma só palavra e abraçamo-nos de forma firme e sentida. Lembro-me do meu último pensamento antes de adormecer, mas não partilho. Toda aquela noite foi especial, aquela mulher que era agora minha era especial e aquele pensamento, só meu, tão meu, é algo que vou guardar até ao fim dos meus dias. Já de olhos fechados beijei-a e deixei-me dormir.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

uf uf uf fiquei sem respiração! Tenho uma sala com essas cores, será que me podias explicar este texto como se Eu fosse loira??
Gostei muito ;)

00:44  
Anonymous Anonymous said...

Noite ardente, de amor ou de sexo? O texto sim é muito ardente.Tudo o que é ardente desaparece depressa,consome-se...

23:46  

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