Thursday, July 20, 2006

Falam-me à alma

Falam-me à alma sobre emoções, sentidos dispersos que se propagam no meu ar, dormindo em meu redor e acordando-me do mais profundo dos sonhos. O que é isso do sentir? O que é isso de chorar ou sorrir? O que provoca em nós tantas emoções, tantos vibrares e tantos arrepios no estômago. Às vezes gostava de ver o mundo pelos olhos de uma criança, puros, imaculados, desprendidos de preconceitos e vícios, os mesmos que turvam a visão adulta das coisas, dando uma lógica maquiavélica a cada toque, a cada som, a cada palavra. Olho para o mundo que me rodeia, tento achar no vento a brisa de uma paixão, ou no sol o calor de uma emoção, ou num bago de chuva o frio de uma lágrima. Tudo em vão, o mundo está despido de emoções, hoje jogam-se estratégias, combinam-se resultados e tudo tem o seu porque. Nada acontece ao acaso, ninguém age por impulso e já ninguém beija com paixão desinteressada. A pureza que outrora povoava a terra morre com cada criança que cresce na vida.

Leio a alma das pessoas e tento ganhar esperança, tento ver para além do que mostram, muito para lá do que a vida nos quer fazer acreditar. Palavras como ambição, poder, dinheiro, influência, são hoje clamadas em surdina. Amizades são traídas, famílias são destroçadas, amores são rasgados e amantes apaixonados caiem na tentação da via mais fácil. Para onde caminhamos, para onde estará o nosso futuro? Recuso-me a acreditar na inevitabilidade do calculismo, na frieza, no racional, recuso-me a acreditar que exista algo mais forte que aquele beijo sentido, dado com o prazer de quem ama, sem nada em troca que não um olhar apaixonado. Tenho a certeza que não existe força maior. Mas então porque não triunfam as emoções? Porque não vence o coração a batalha que a sociedade parece querer impor? A estas perguntas confesso considerar-me impotente para responder. Não aceito desculpas, não aceito pressões e estilos de vida, não aceito frases feitas ou clichés, só quem nunca amou pode ser tão hipócrita e ridículo. Mas há piores, há aqueles que amando repudiam esse mesmo amor em troca de uma decisão racional, de um contrato ou um acordo melhor, em que uma paixão é trocada por aparências, por luxos e opulência, que não pode terminar em cenários melhores que a demência, a desgraça e a tristeza.

Quando verá a sociedade que a felicidade não se compra ou não se negoceia, mas sim sente-se e luta-se por ela até ao fim das nossas forças. Ah como eu troco todos os luxos pelo beijo apaixonado de quem amo. Que importância ridícula tem todas as roupas, as jóias, os carros ou as casas, quando tudo isso é partilhado sem sentido, sem emoção, sem paixão. Acho que a sociedade nunca irá mudar, haverá sempre alguém a envenenar a poção mágica do sentir. Acho mesmo que esta é uma batalha perdida e quixotesca mas nenhuma outra me dá tanta força para lutar como esta. Por nada mais neste mundo me apetece lutar que não pelo sentir de um corpo que treme quando lhe toco, por uma língua que fica húmida quando me vê chegar, por uns olhos que se iluminam com o perfume da minha voz. Morria por isso, se Deus me deixasse, morria por isso, tal como morro e renasço em cada beijo, em cada carícia, em cada sentir, porque até ao fim vou acreditar que mais forte que todo o dinheiro do mundo está a força do sentir de uma emoção, mesmo que eu não a veja, mesmo que só a minha alma saiba o que isso quer dizer.

1 Comments:

Blogger 125_azul said...

Um círculo de amor inquebrável... afinal há salvação para a tua alma, depois do post anterior achei que desistias formalmente de ter "esposa". Beijinho

20:47  

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