Thursday, January 26, 2006

A Sociedade está podre


Há uns tempos escrevi um texto sobre o amor. Para os mais desatentos poderia parecer um desabafo dorido mas era um grito de esperança. Sempre acreditei nas emoções e continuo a lutar por elas. Hoje quero partilhar esse texto porque acho que outros podem ganhar forças onde eu já tive fraquezas, espero que sirva para inspirar a mimar aquela pessoa especial, a lembrá-la todos os dias o que se sente e não deixar de acreditar que existe vida além desta sociedade hipócrita e consumista.

A mascara caiu. A dor imensa corta-me por dentro deixando-me deitado sem conseguir mexer um único músculo. Arde-me o peito ao respirar e tremem-me os olhos das lágrimas que querem rebentar e a raiva não deixa. Olho à volta e andam todos numa espiral de loucura em busca de um Santo Gral a que chamam amor. O passaporte para uma vida eterna dizem uns, um sorriso para cada manhã, um calor de alma ou simplesmente aquele brilho nos olhos quando tudo à volta parece estar destruído.

Eu já senti tudo isso, já tremi com uma voz a sussurrar-me junto à pele, já suei com um toque, já morri e nasci com um olhar, e porquê? Para que dá-nos a vida sonhos e fantasias, paixões, ilusões e magias para depois nos mostrar que tudo não passa de uma encenação merecedora de um Oscar hollywoodesco. Quem chora de felicidade não está a fazer mais que antecipar o sentimento correcto para poder chorar.

A nossa sociedade é de consumo, de escolhas fashion e de fast food e as relações são tudo isso, uma escolha de aparência que se consome como um hambúrguer e no final se deita o papel fora como se nada fosse importante, como se os momentos juntos, os sonhos ou as mentiras que os nossos ouvidos escutam como verdades absolutas não contassem. Para que sonhar se existe sempre uma manhã nublada em que o despertador toca e nos mostra que a cama está fria e vazia, para quê promessas e falsas verdades se o inferno delas está cheio.

Hoje banalizou-se a palavra amor e a expressão “eu amo-te”. Basta um carro, uma camisa, uma carreira ou um simples engano e tudo é amor e paixão. De nada vale a entrega, o romantismo, o viver com o outro no pensamento porque no final a vida escolhe os melhores segundo um critério podre e nojento. Ninguém olha a sentimentos, escolhem-se “amores” como se escolhe aquela peça de roupa que mais ninguém tem, da marca da moda que todos invejam e que serve enquanto está in e enquanto usá-la significa status, entradas em festas e uma vida de luxo e opulência.

Já sabia que a vida não era justa nas oportunidades, que nem todos podiam triunfar e que esse critério quase nunca é a capacidade de cada um mas sim o seu passado, o seu apelido ou a forma como a sua fortuna o beija pela manhã. Já repudiava esta forma da nossa sociedade e agora vejo isso naquilo que eu sonhava puro, no que me fazia acreditar que algo tinha um sentido e um significado.

Já ninguém ama, já não se sente paixão e de nada serve um sorriso sincero quando não se consegue “comprar” aquele lugar especial naquele restaurante onde a comida sabe a pó mas saiu na revista onde todos aqueles vazios por dentro passeiam as suas roupas, os seus carros e a sua ignorância.

Odeio esta sociedade e sei que ela também não gosta de mim mas não me rendo. Não vou desistir de sofrer por um amor, de buscá-lo como um diamante e de dormir a sonhar que um dia vou ser feliz. Não sinto raiva da vida, sinto apenas nojo das pessoas que dela fazem parte, respirando à minha volta como abutres que voam para longe quando a carne já não está agarrada aos meus ossos.
Hoje estou a sofrer, ontem estava a sofrer e amanha vou de certeza estar a sofrer, mas um dia, um qualquer dia, por um minuto que seja vou voltar a sorrir com um calor no peito que jóias, carros, casas e barcos não conseguem comprar.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ainda se ama. E quando se ama muito às vezes também se sofre muito. Não fiques descrente. Tenta fazer do sofrimento uma etapa de crescimento e não um impedimento para amares outra vez.

11:36  
Blogger Catarina said...

Li algures que o amor acontece quando se encontra a pessoa certa no momento certo. O desencontro faz parte da vida e contribui para conferir maior valor a esse momento certo. A sociedade rege-se pelos valores errados, é certo. Mas cabe a cada um de nós rejeitá-la a pouco e pouco, no dia-a-dia. E fomentar a crença nesses valores que têm em conta os sentimentos e as emoções.

12:10  

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